Manuscrito redescoberto pode reabilitar Judas
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Roma
Segundo documento Jesus teria perdoado Judas, que teria ido para o deserto
Judas, o homem que, por 30 moedas, entregou Jesus aos soldados que o crucificaram, não seria um traidor mas sim um heroi. Esta interpretação da historia pode ganhar força graças a um antigo documento que só agora está sendo traduzido. Sua publicação, prevista para abril, já causa polêmicas e divide os católicos.
O manuscrito, em copta, é do século quatro e foi descoberto nos anos 70, no Egito. Desde então passou por várias mãos e muitas aventuras, até chegar aos cofres da fundaçao Maecenas for Ancient Art (Mecenas para Arte Antiga, em tradução livre), de Basiléia, Suiça- atual proprietária, em sociedade com a National Geographic.
O texto, mantido sob sigilo, está sendo traduzido para inglês, francês e alemão por Rudolph Kasser, considerado como o maior especialista em língua copta do mundo.
Apócrifo
Quanto ao conteúdo, segundo estudiosos que tiveram acesso à copia de alguns trechos, não há duvidas. O código transcreveria o "evangelho de Judas", um apócrifo do século um.
Os evangelhos são a principal fonte de informações sobre Jesus Cristo.
A igreja reconhece quatro, que define como canônicos: Mateus, João, Marcos e Lucas.
Os apócrifos não têm autoridade canônica, mas influenciaram a interpretação da história e a maneira como ela foi reproduzida através da arte.
Na opinião de alguns estudiosos, o documento poderá revolucionar o modo de entender a primeira fase do cristianismo. E dar uma nova imagerm ao homem que traiu Jesus com um beijo.
O "evangelho de Judas" teria sido escrito por membros da seita gnóstica cainita, um movimento religioso cristão que misturava misticismo e filosofia e influenciou grupos heréticos.
Na visão dos cainitas, Judas Iscariotes teria seguido um desígnio divino e não podia fugir de seu destino. A traição faria parte do plano de Deus, era necessária, e sem ela não haveria salvação para os homens.
Confirmações
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Segundo monsenhor Walter Brandmuller, presidente do Comitê de Ciências Históricas do Vaticano, os cainitas achavam que o mundo era expressão do mal. O bem, existia apenas na dimensão transcedental.
“Consideravam em modo positivo todas as figuras negativas das escrituras sagradas hebraicas e cristãs. Uma forma de oposição ao deus criador deste mundo, um deus mau, que ignorava o Deus verdadeiro", disse à BBC Brasil.
Monsenhor Brandmuller nega, contudo, que o Vaticano esteja promovendo uma campanha para reabilitar Judas.
O novo documento, que define como uma espécie de "ficção histórica", não deve provocar grandes mudanças, em sua opinião.
"Será um testemunho precioso para conhecer melhor o cristianismo primitivo", afirmou.
Outros católicos consideram importante uma revisão da figura que acabou por se tornar sinonimo de traição e que ainda hoje é simbolicamente castigada, através da "malhação de Judas", no Sábado de Aleluia.
Possuído
Para São Lucas e São João, Judas traiu porque possuído pelo demonio.
O escritor Vittorio Messori acredita que o manuscrito copta pode dar um impulso na reabilitação de Iscariotes.
Segundo o autor de vários livros sobre a Igreja Católica e amigo de João Paulo 2°, esta revisão é necessária. Resolveria, segundo ele, um problema aberto de justiça e misericórdia de Jesus, que teria perdoado a covardia de Pedro, mas não a traição de Judas.
"No evangelho apócrifo, Judas se arrepende. Jesus o perdoa e manda para o deserto, fazer exercícios espirituais. Nos evangelhos canônicos ele se suicida. Não há sinal de perdão, apesar de Jesus ter ensinado a perdoar os próprios inimigos”, afirmou Messori para o jornal La Stampa.
A ideia de um desígnio divino não é novidade, na avaliação de Alberto Mellone, professor de historia da Igreja Católica.
"Esta interpretação faz parte de uma catequese difusa", disse para a BBC Brasil.
Mellone descarta também que a figura de Judas tenha tido alguma influência no surgimento e enraizamento do antisemitismo.
Alguns estudiosos defendem esta hipótese e acreditam que uma reabilitação da figura de Judas possa contribuir para o dialogo entre católicos e judeus.
"O antisemitismo cristão nada tem a ver com Judas mas com os sacerdotes de Israel. Baseou-se na acusação de assassinato de Jesus e não em sua delação", afirmou Alberto Mellone.
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