IRÃ
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14.01.2006 O presidente iraniano Mahmoud Ahmadinejad está pressionando o mundo por tudo quanto é lado. Ninguém tem muitas dúvidas de que pretende desenvolver a Bomba – e muito pouca gente gosta da idéia. Ahmadinejad é um político estranho: seu perfil é nacional, provinciano, suas preocupações são internas – e, no entanto, cada coisa que fala à toa para o público interno piora as coisas para seu país. Ele é um embaraço.Ahmadinejad é um político estranho num país estranho: nenhum dos clichês empregados em geral para o Oriente Médio se aplicam. O Irã vive uma ditadura mas o regime dos aiatolás não é uma ditadura qualquer. A população urbana é bem-educada, tem amplo acesso à Internet, usa calça jeans, há uma classe média razoável e as pessoas protestam nas ruas pedindo abertura como se o regime estivesse em ruínas.Só que o regime não está em ruínas: Ahmadinejad foi eleito em meados do ano passado, o candidato mais conservador dentre seis, pelo voto popular. Houve alguma acusação de fraudes que o aiatolá Ali Khamenei se recusou a investigar, mas ninguém acha que a eleição tenha sido injusta; era dele.Mohammad Khatami, o presidente anterior, tentou reformas e avançou um bocado, era um favorito de jovens e mulheres. Era também cauteloso na política externa e melhorou as relações de seu país. Discretamente, até porque era seu interesse, deu apoio aos EUA e aliados no Afeganistão e Iraque.Também foi popular internamente entre quem queria espaço para respirar – é só que a inflação está alta, o desemprego idem e o interior do país é conservador. Ahmadinejad foi prefeito de Teerã, antes, e fez uma campanha nacionalista promovendo um Irã grande. Quando angariou boa parcela de votos entre os jovens desempregados, elegeu-se.Segundo a ong internacional Human Rights Watch, só um homem em seu gabinete é responsável pela execução sumária de algo entre 3.000 e 5.000 militantes de oposição no período imediatamente após a guerra Irã-Iraque. Trata-se do ministro do Interior Mustafá Pour-Mohammadi. Seu gabinete tem também gente que fechou mais de 100 jornais – o ministro da Informação Gholamhussein Mohseni Ezhei – e este há de ser um recorde mundial.Portanto, o Irã, que vinha abrindo gradualmente, se encontrará ao longo dos próximos três anos e meio nas mãos do tipo de gente que controlou o país no ápice conservador e retrógrado dos tempos do aiatolá Khomeini. A diferença é que, naquela época, o mundo atravessava a Guerra Fria. Agora, os discursos anti-semitas e belicistas do presidente Ahmadinejad são recebidos com nervosismo até mesmo entre gente que o apoiou. Sua opção nuclear é ainda mais delicada: afinal, pode custar a vida de muitos.A princípio, dá para compreender. Israel tem armas nucleares; o Paquistão tem; a Rússia tem – estão todos a um míssil de distância. Há outro argumento: o presidente norte-americano George W. Bush incluiu o país em seu Eixo do Mal. O Iraque foi invadido e seu governo, deposto. Nada mais natural que o Irã queira possuir um tipo de armamento que evitaria qualquer ataque. Só que ninguém no mundo precisa de mais um país instável armado nuclearmente.De acordo com os cálculos divulgados pela CIA, demora entre cinco ou dez anos até que o país tenha a Bomba. Então há tempo para negociar – e as negociações vão mal. O segundo passo são sanções da ONU. Nada é tão simples. O Irã conta com a ajuda de China e Rússia para bloquearem quaisquer ofensivas.A Rússia era um parceiro mais certo nos tempos de Khatami. Desde que assumiu o novo presidente, seu par russo Vladimir Putin já cancelou encontro entre os dois em protesto por declarações anti-Israel. Assim como um discurso do presidente do parlamento iraniano, a Majlis, foi cancelado em cima da hora na Duma, o parlamento russo. Não há rompimento formal, mas há sinais vários de que não é para contar com a companhia. A China não envia sinais do tipo, mas a China também pode preferir não sacrificar suas relações já tensas com Europa e EUA para apoiar o Irã.Por outro lado, sanções contra o Irã não são uma solução boa. Primeiro, sacrifica a população mais do que seus dirigentes. E o Irã não é o Iraque. O preço do petróleo está alto no mercado internacional e o país é o quarto maior exportador do mundo. Então suas reservas de dólar e euro estão altas e aumentam a cada mês. O país é capaz de agüentar o tranco durante um tempo razoável e, se ele decidir em resposta fechar as torneiras do petróleo, o preço internacional sai do 60-65 dólares por barril e vai a 100, segundo análise da agência de notícias econômicas "Bloomberg". O mundo entra em crise instantânea.Além do quê, há 200 ou 300 pontos onde se espalham os pontos de enriquecimento de material radioativo no país. Leve-se em conta o passado deste tipo de inteligência e os prospectos são de baixa confiabilidade. Conte-se três aviões para atingir cada um destes alvos e são algo entre 600 e 900 aviões para uma operação. Ninguém tem como fazer isto imediatamente, o número de mortos entre civis seria fora do normal, haveria muito engano e bombardear alvo nuclear não é coisa que se faça impunemente.Mesmo que uma operação destas fosse posta em prática, o Iraque iria virar um inferno sobre a terra. O ódio ao ocidente em geral, aos EUA em particular, se multiplicaria. Mahmoud Ahmadinejad só piora a situação – mas ele sabe que pôs o mundo em xeque. Não tem como ganhar. Não tem como perder.
PEDRO DORIA
NOMINIMO.IBEST.COM.BR
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