2/05/2006

Haiti: civis pagam o alto preço

Com o aumento, em número e intensidade, de violentos ataques em muitas partes da capital do Haiti, Porto Príncipe, a organização internacional de ajuda humanitária Médicos Sem Fronteiras (MSF) apelou hoje a todos os grupos armados na cidade para que respeitem a segurança dos civis e permitam que as pessoas feridas durante os enfrentamentos tenham acesso imediato a cuidados médicos de emergência. A organização também pediu que a segurança dos profissionais nacionais e estrangeiros de ajuda humanitária seja respeitada. Nas últimas semanas, as equipes médicas e cirúrgicas de MSF vêm observando um crescimento alarmante do número de pacientes que precisam de tratamento para ferimentos relacionados à violência, como por exemplo o aumento constante do número de vítimas de armas de fogo e de armas brancas. Em dezembro de 2005, MSF tratou mais de 220 feridos por armas de fogo em duas estruturas de saúde – Centro de Traumatologia de St. Joseph no bairro de Turgeau e Hospital Choscal em Cité Soleil. Dessas, 26 foram tratadas no Hospital Choscal apenas nos dias 26 e 27 de dezembro. Isto representa um aumento assustador em relação a novembro de 2005, quando 147 vítimas de armas de fogo foram tratadas nas duas estruturas de saúde. De todas as pessoas tratadas por ferimentos relacionados à violência nas estruturas de MSF quase 50% eram mulheres, crianças e idosos. “É inaceitável que tantos civis sejam vítimas desta última onda de violência", disse Ali Besnaci, Coordenador Geral do Centro de Traumatologia de MSF no Hospital St. Joseph, no centro da cidade. "Estamos recebendo pacientes de St. Martin, Centre Ville, Martissant, Carrefour e de outras áreas de Porto Príncipe. Recentemente, socorremos um bebê de 15 meses de idade e um senhor de 77 anos, ambos com ferimentos causados por armas de fogo". Desde dezembro de 2004, equipes médicas e cirúrgicas de MSF já trataram cerca de 2.500 pessoas com ferimentos decorrentes da violência no Hospital St. Joseph, incluindo mais de 1.500 vítimas de armas de fogo e 500 vítimas com ferimentos provocados por esfaqueamento. Em agosto de 2005, MSF reabriu o Hospital Choscal e o Centro de Saúde Chapi, no coração da favela de Cité Soleil. Nos três primeiros meses de funcionamento, nossos profissionais realizaram cerca de 12 mil consultas de saúde e 800 intervenções de emergência. Desde 1° de janeiro de 2006, MSF tratou 47 vítimas de armas de fogo em Cité Soleil. De acordo com os pacientes, além dos ferimentos resultantes de balas perdidas, também há casos de ferimentos por arma de fogo deliberadamente causados por todos os grupos armados que atuam no país. “Vários grupos, inclusive a MINUSTAH (Missão das Nações Unidas para Estabilização do Haiti), se referem às vítimas civis como 'danos colaterais' ", disse Loris De Filipi, Coordenador Geral do projeto de MSF em Cité Soleil. "Mas é inadmissível que tantas vidas tenham que ser perdidas diariamente durante os tiroteios". Em Cité Soleil, um epicentro da violência criminal e política, a situação é especialmente grave para aqueles que necessitam de cuidados médicos de emergência. “Nossa capacidade de trabalho em Cité Soleil é precária – nunca sabemos se teremos acesso ao local na semana seguinte", disse Loris De Filipi. "A segurança dos profissionais de ajuda humanitária também precisa ser respeitada. Se não pudermos realizar nosso trabalho, 250 mil pessoas – uma população do tamanho de uma pequena cidade americana ou européia – terão poucas opções de cuidados médicos". Indignada com a onda de violência em junho e julho de 2005, MSF fez um apelo similar para que os grupos armados que atuam em Porto Príncipe respeitassem a segurança dos civis e garantissem o acesso irrestrito da população aos serviços médicos de emergência. “A situação insuportável dos dias de hoje nos faz lembrar o que os haitianos enfrentaram em junho passado, e estamos preocupados porque essa situação pode piorar", disse Ali Besnaci. "As pessoas vivem constantemente com medo e sabemos que muitos feridos temem ou são impedidos de buscar o tratamento que necessitam. Isto é simplesmente inaceitável". MSF trabalha no Haiti desde 1991. Além da assistência traumatológica de emergência em Porto Príncipe, do Hospital Choscal e do Centro de Saúde de Chapi, MSF oferece cuidados básicos de saúde à população do bairro Decayette, na capital.
http://www.msf.org.br/noticia/msfNoticiasMostrar.asp?id=526