1/31/2006

A negociação entre os EUA e a resistência iraquiana

por Carlos Varea
"A questão não é, seguramente se os EUA e a resistência militar iraquiana terão de negociar. A questão é se se há de negociar sobre a sobrevivência do processo político e económico patrocinado pelos EUA, ou sobre as condições em que os ocupantes se hão de retirar incondicional e totalmente do Iraque. Indubitavelmente, a primeira condição não se coloca, pelo menos para uma parte substancial da resistência, apesar dos termos do processo terem sido sobre a primeira e não sobre a segunda condição. Aos EUA nada mais resta do que assumir que o que há a negociar com a resistência não é a sua continuidade no Iraque, a substituição de uma ocupação por outra ocupação (uma coisa que ainda tentam conseguir com os colaboracionistas curdo-iraquianos e os religiosos xiitas), sem a sua saída do país. Enquanto isso, a guerra prossegue". No passado dia 12 de Janeiro, o sítio web al-Moharer.net (juntamente com o al-Basrah [1] , o sítio da Internet reconhecido como o veículo de expressão dos sectores nacionalistas da resistência iraquiana), recolhia as declarações oficiais de um porta-voz de um dos principais grupos armados do Iraque, Jaysh Mohammed, o Exército de Mohammed [2] , formação que, pese a sua denominação (como ocorre com outras organizações da resistência), é essencialmente integrada por ex-militares e militantes Baaz. Na suas declarações a al-Moharer, o porta-voz de Jaysh Mohammed negava qualquer implicação da sua organização e do comando militar nas supostas negociações entre a resistência iraquiana e os ocupantes, às quais fazem menção, cada vez mais explícita, alguns meios de comunicação internacionais, ocidentais e árabes [3] . Aí, o porta-voz da Jaysh Mohammed recusava as iniciativas de paz recentemente propostas, fora do Iraque mas a partir do campo árabe, concretamente a de Jair al-Din Hasib, fundador e ex-secretário geral do Congresso Nacional Árabe e, actualmente, director do Centro de Estudos para a Unidade Árabe, ambas sediadas em Beirute [4] . "Declaramos e advertimos novamente que ninguém está autorizado a negociar com os ocupantes, excepto a resistência e os seus dirigentes", assinalou o porta-voz desta organização [5] , ao mesmo tempo que negava que a detenção de alguns dos seus dirigentes tivesse debilitado a Jaysh Mohammed:
"Quem tem o controlo [militar] sobre o terreno é quem decide o rumo da revolução armada e é a actuação [da resistência] que trará a libertação do Iraque e não os pequenos serviços prestados, em declarações ou reuniões realizadas, fora do país. A nossa acção, realmente, é que levou os ocupantes ao seu actual e estrondoso fracasso. É por isso que apelamos a todas as forças patrióticas para que sejam cuidadosas e responsáveis nas suas declarações e que evitem misturar os problemas, o que, objectivamente, servirá a ocupação estadunidense." O porta-voz da Jaysh Mohammed finalizou as suas declarações, dizendo:
"Os crescentes rumores sobre os contactos entre as forças de ocupação estadunidenses e algumas facções da resistência, com a interferência de alguns serviços de inteligência árabes neste jogo por pressão dos EUA, bem como as mentiras e a campanha de intoxicação de canais de televisão e de alguns sítios suspeitos da Internet (particularmente o jornal [saudita] editado em Londres, al-Hayat ) nesse sentido, não tem outro objectivo que não seja a deformação dos factos: trata-se de uma táctica para exercer pressão sobre nós e sobre a liderança da resistência, a fim de que aceite negociar à margem das resoluções dos seus dirigentes e da conhecida estratégia de libertação". "Reiteramos por este meio que, até ao momento presente, a direcção da resistência não autorizou ninguém a contactar ou negociar com o ocupante. Qualquer partido que negoceie com o ocupante sem a autorização da direcção reconhecida da resistência está a colocar-se no campo do inimigo. Anularemos, com determinação e sem vacilar, qualquer iniciativa ou plano que marginalize as principais forças políticas e militares do lado iraquiano."
NEGOCIAR, MAS O QUE? Como enfatizava o meio de comunicação que as difundiu, estas inéditas declarações da Jaysh Mohammed devem ser consideradas como um claro desmentido do Partido Baaz sobre a sua implicação em negociações com os ocupantes, tal como já havia sido feito pelo seu bureau político, nos comunicados que emite regularmente. Fica claro que, pelo menos um sector da resistência iraquiana, o que se articula, com a participação das correntes nacionalistas e comunistas dissidentes do anterior regime (a Aliança Patriótica Iraquiana dirigida por al-Kubaysi, a União do Povo, etc), o que articula com o Partido Baaz e a sua proposta de uma Frente de Libertação Nacional Islâmica [6] , não quer, por agora, ver-se implicado na cada vez mais explicita pretensão dos EUA de iniciar um processo de negociação com a resistência. No entanto, em fins de Dezembro, Salah al-Mujtar, um ex-diplomata iraquiano que foi embaixador do seu país no Vietname, Índia e Nações Unidas, agora exilado no Yémen, que apesar de não ser porta-voz do partido sintoniza com a sua linha oficial, afirmava a disposição do Partido Baaz e da resistência "[...] em negociar [com os EUA] uma solução pacífica para a guerra do Iraque" [7] . Não há aqui contradição: a questão é o que negociar, não que haja negociação. Enquanto a resistência exige a retirada incondicional dos ocupantes do Iraque, os EUA, numa inflexão de charme, está a tentar abrir um processo de diálogo com os combatentes iraquianos que incorpore estes no processo político imposto por Bremer no Outono de 2003, momento em que a administração Bush pareceu dar-se conta de que o seu projecto de cómodo e hegemónico controlo do Iraque tinha fracassado devido, precisamente, à luta armada. Nesta lógica, devido às eleições de Dezembro passado, inicialmente tinham-se envolvido grupos armados das correntes sunitas que gravitam à volta do Partido Islâmico [8] , organização de novo totalmente implicada – esteve-o no início da ocupação – no processo promovido pelos EUA. Sublinhe-se que, inclusivamente, participou há semanas nas negociações para a formação do novo governo, e cedeu ao encerrar a polémica sobre a amplitude da fraude eleitoral. O chamariz que administração Bush utiliza para chamar a atenção da resistência civil, política e militar inclui as duas principais consequências, derivadas da própria ocupação: a penetração no Iraque das correntes taqfiristas (ou anatemizadoras) da Al Qaeda e a hegemonia das formações confessionais xiitas, directamente comprometidas com o Irão [9] . A ser verdade o que foi publicado por al-Watan al-Arabi, a 17 de Dezembro passado, sobre o conteúdo da negociação entre a administração estadunidense e a resistência iraquiana [10] , que inclui, segundo este jornal árabe, também uma representação do Partido Baaz, os EUA estariam a oferecer a reinserção a ex-chefes militares do deposto regime nas novas forças de segurança iraquianas e tinham a intenção de suprimir, ou moderar a lei de desbaazificação que foi incorporada no projecto de nova Constituição, aprovada em Outubro de 2005. Inclusivamente chegou a afirmar-se que os EUA tinham negociado, nestes últimos meses, a cedência de áreas centrais do país à resistência, através de acordos com representantes civis e religiosos locais [11] . Na sequência desta linha de actuação, os EUA encontraram a oposição frontal das formações agora hegemónicas nas instituições apadrinhadas pelos ocupantes, as confessionais xiitas, que inclusivamente convocaram a 6 de Janeiro uma manifestação em Bagdade, para rejeitar todo e qualquer diálogo com os "terroristas". MUDANÇA DE RETÓRICA Os dados confirmam que as primeiras escaramuças, em Novembro passado na província de al-Anbar (na sua própria capital, Ramadi), entre organizações da resistência iraquiana e a rede Al Qaeda de Al Zarqaui [12] no Iraque, estão a estender-se a outras províncias do país, como Diyala e Saladino, no norte ao norte de Bagdade. O próprio porta-voz do Pentágono, general Rick Lynch, dava conta destes confrontos [13] . Já em Janeiro, o anúncio na Internet pela Al Qaeda da criação de um "Conselho de Combatentes" para coordenação de grupos armados marginais, que não incluíam Ansar al-Sunna e outros grupos islamitas sunitas, foi entendido como o prelúdio de uma escalada de confrontos entre a rede de al-Zarqaui e a resistência iraquiana [14] . Certamente a retórica dos ocupantes, como assinala o correspondente do Christian Science Monitor em Bagdade, Charles Levinson, mudou nas últimas semanas [15] , quando chefes militares e políticos estadunidenses distinguiram uma resistência que já chegam a considerar patriótica e nativa e os terroristas da Al Qaeda, vindos do exterior. O que é verdadeiramente relevante mas nebuloso, é que os porta-vozes da administração Bush começam, pela primeira vez, a incluir explicitamente os baazistas entre os primeiros, a quem os chefes militares dos EUA, desde o início da ocupação e ao longo destes dois anos e meio, atribuíram a responsabilidade fundamental da actividade armada e a sua reconhecida progressão logística, financeira, técnica e de informação. Porter, autor do artigo "Bush procura a ajuda dos seus inimigos no Iraque" traduzido em IraqSolidaridad, situa o ponto de inflexão da posição pública estadunidense na conferência de imprensa do general Lynch, a 8 de Janeiro em Bagdade, quando este evitou classificar a resistência iraquiana de baazista ou fundamentalista, como lhe pedia um jornalista, respondendo que as operações dos EUA no Iraque "...se centram em al Zarqaui e a sua rede" [16] . No entanto, os EUA continuam a desenvolver operações militares em várias zonas do país (a última em Janeiro contra Baji) e cada vez com um carácter mais maciço [17] , bem como iniciativas como o assalto, em Janeiro, à sede da Associação de Ulemas Muçulmanos, em Bagdade [18] , permitem adivinhar que as negociações entraram em ponto morto. A mudança não é de somenos: está subtilmente avançando, o que desde há muitos meses é um segredo do conhecimento geral: Os EUA querem e estão a tentar negociar com os Baazistas, dentro e fora do Iraque [19] . Além disso, a subtil distinção mantida até agora entre Baazistas e Sadanistas é isso mesmo, uma distinção subtil, dado que no terreno, dentro do Iraque, não houve qualquer ruptura no Partido desde que começou a ocupação e os dissidentes Baazistas e de outras correntes nacionalistas e de esquerda do exílio aceitam a sua hegemonia interna. SEM CALENDÁRIO DE SAÍDA Os EUA nunca aceitaram fixar um calendário de saída das suas tropas, uma negativa que faz desconfiar do processo de negociação outros grupos armados islamitas [20] , mesmo que as suas formações políticas continuem a envolver-se no processo político. Os EUA incentivam um confronto directo da resistência com a Al Qaeda e a contenção da hegemonia confessional xiita, pró-iraniana, mas mantendo a sua lógica de dominação estratégica do Iraque. Ao contrário, a preocupação no Iraque de que a deriva social, económica e política pressupõe o depositar de confiança nas correntes fundamentalistas e sectárias é genuína e enorme [21] . E enquanto os ocupantes a consideram um "efeito não desejado" da sua invasão do Iraque, a resistência civil, política e militar iraquiana associa-a, como não pode deixar de ser, à lógica da própria ocupação, e só vê a sua contenção e erradicação associada à saída dos ocupantes. A questão não é, seguramente, se os EUA e a resistência militar iraquiana terão, um qualquer dia, de negociar, como provavelmente já o fizeram numa primeira aproximação. A questão é se vão negociar sobre a sobrevivência do processo político e económico patrocinado pelos EUA ou sobre as condições em que os ocupantes haverão de se retirar total e incondicionalmente do Iraque. Naturalmente, a primeira alternativa pode dar-se como encerrada, pelo menos para uma parte substancial da resistência, tendo em conta que os termos do processo foram sobre a primeira e não sobre a segunda alternativa. Aos EUA apenas resta assumir que o que há que negociar com a resistência não é a sua continuidade no Iraque e a estabilização da ocupação, mesmo que com outra cara (uma coisa que ainda tentam alcançar com os colaboracionistas sectários curdo-iraquianos e os religiosos xiitas), mas a sua saída do país. Entretanto, a guerra prossegue.
Notas
1- www.albasrah.net
2- www.al-moharer.net
3- Provavelmente, pela primeira vez por parte da revista Time no número de 12/Dezembro/2005: "The New Rules of Engagement", de Michel Ware.
4- Conhecida como Proposta de Princípios para o Diálogo e o Acordo
5- As citações correspondem à tradução do árabe feita para Iraqsolidaridad por Hamoud El Khadiri.
6- Veja-se em Iraqsolidaridad: Reunião da Delegação CEOSI com o Partido Baaz, a União do Povo e a Aliança Patriótica Iraquiana – Projecto de criação da Frente de Libertação Nacional
7- Entrevista com Robert Dreyfuss e publicada em Uruknet: Robertdreyfuss.co.blog
8- Ver em Iraqsolidaridad: Un sector de la resistencia islamista ofrece negociar con EEUU su participación en el proceso. El Congreso Fundacional Nacional Iraquí anuncia que no participará en las elecciones de diciembre y 1.000 días de guerra. Elecciones bajo ocupación: Listas sectarias y fractura en el campo anti-ocupación
9- Ver em Iraqsolidaridad: Gerard Porter: Bush procura a ajuda dos seus inimigos no Iraque
10- Al Fanar, Revista de Imprensa Árabe, 17/Dezembro/2005
11- Paul Martin, "Washington seekspartial truce with Iraqui insurgents", The Washington Times, 21/Dezembro/2005
12- Ver em Iraqsolidariedad: Carlos Varea: "Enfratamientos entre la resistencia y Al Qaeda en Iraq"
13- Al-Jazeera, 19/Janeiro/2006. Além disso, The New York Times de 12/Janeiro/2006, que inclui entrevistas a chefes militares da resistência
14-Al Fanar, Revista de Imprensa Árabe de 16/Janeiro/2006 e Al-Jazeera de 15/Janeiro/2006 "
15- US tries to loosen Shiite grip in Iraq", 17/Janeiro/2006 16- Asia Times, 17/Dezembro/2005
17- Ver Iraqsolidaridad: Carlos Varea: Abandonando o terreno – Atacado com mísseis o aeroporto de Basora
18- Ver Iraqsolidaridad: Cinco detidos no assalto à sede, em Bagdade, da Associação de Ulemas Muçulmanos
19- Ver em Iraqsolidaridad: "O importante não é o número de combatentes, mas o número de civis que os apoiam" Uma entrevista com um resistente iraquiano
20- The New York Times, 07/Janeiro/2005 21-
Ver Iraqsolidaridad: Encontro da CEOSI com Relações Internacionais da Resistência Iraquiana – A meeting of the Spanish Campaign against Occupation and for the Sovereignt of Iraq and International Relations of the Iraqi Resistence .
O original encontra-se em http://www.iraqsolidaridad.org/2006/docs/ocup_24-01-06_varea.html Tradução de José Paulo Gascão.
Este artigo encontra-se em http://resistir.info/ .

1/29/2006

Brasileiro morre pelo exército dos EUA no Iraque

Rio de Janeiro - O carioca Felipe Carvalho Barbosa, de 22 anos, fuzileiro da Marinha americana, foi morto na sexta-feira, quando voltava de um confronto em Fallujah, no Iraque. O caminhão em que ele estava passou por cima de uma mina e capotou, informaram familiares do jovem, que moram em Bangu, na zona oeste do Rio. O corpo de Felipe chegará na próxima sexta-feira aos Estados Unidos; o enterro está previsto para sábado.
O pai do rapaz, Robson de Lima Barbosa, de 44 anos, vai pedir que o Itamaraty intervenha junto ao governo americano para este custeie sua viagem aos Estados Unidos. "Não tenho meios próprios para viajar. Mas meu filho morreu a serviço do governo americano. Acho que o mínimo que podem fazer é permitir que eu o veja pela última vez", disse Barbosa, que vive em Goiânia.
Felipe mudou-se com os pais e o irmão André para a Carolina do Norte, em 1994. Desde pequeno dizia que queria ser militar, incentivado pelo tio Carlos Alberto Simões, sargento reformado da Marinha. Os pais separaram-se, e ele permaneceu nos Estados Unidos com a mãe, Iracy, e o irmão. Aos 16 anos, ingressou na Marinha americana.
O desejo de Felipe era participar da caçada a Saddam Hussein. Por três vezes foi reprovado nos testes a que os militares são submetidos antes de irem à guerra: foi eliminado nos exames médicos, depois cortado por uma falha técnica na sala em que era feita a triagem e, por fim, um defeito no pára-quedas o impediu de saltar. "Era um sinal de que ele não deveria ir à guerra. Sempre fui contra, mas ele tentou por dois anos e conseguiu na quarta vez. Quando eu soube, ele estava no Iraque havia três meses", contou Barbosa, que não via o filho desde 2002, quando o rapaz esteve no Brasil pela última vez.
Felipe foi para o Iraque em outubro e deveria voltar para os Estados Unidos em março. Há 15 dias, um amigo dele foi morto em combate na sua frente. O fuzileiro naval conversou por telefone com a tia Maria Simões, que vive em Bangu, e pediu que ela rezasse. "O negócio aqui está feio". Na sexta-feira, após o confronto, Felipe ligou para a mulher, Christie, e disse que estava bem. Pouco depois, houve o acidente. Fallujah é uma das áreas mais conturbadas do Iraque, com intensa resistência à ocupação americana.
Felipe morreu no dia em que seu irmão completava 16 anos. "O André está inconsolável. Ele esperava que o Felipe ligasse para dar os parabéns e o telefonema que recebeu foi da notícia da morte do irmão. Ele nunca mais terá uma festa de aniversário", disse Barbosa. Há outros dois marines brasileiros no Iraque: Daniel Moreira, de 24 anos, e Felipe Mesquita, de 22.
Clarissa Thomé
http://www.estadao.com.br/ultimas/mundo/noticias/2006/jan/29/75.htm

A segunda fundação da Bolívia

Os indígenas não eram filhos da Bolívia: eram apenas sua mão-de-obra. Até pouco mais de meio século atrás, os índios não podiam votar nem caminhar pelas calçadas das cidades. Com toda razão, Evo disse em seu primeiro discurso presidencial, que os índios não foram convidados, em 1825, à fundação da Bolívia.
Eduardo Galeano


Em 22 de janeiro do ano 2002, Evo foi expulso do Paraíso.Ou seja: o deputado Morales foi expulso do Parlamento. Em 22 de janeiro do ano 2006, nesse mesmo lugar de aspecto pomposo, Evo Morales foi consagrado presidente da Bolívia. Ou seja: a Bolívia começa a tomar conhecimento de que é um país com maioria indígena. Quando ocorreu a expulsão, um deputado índio era mais raro do que cachorro verde. Quatro anos depois, são muitos os legisladores que mascam coca, milenar costume que estava proibido no sagrado recinto paramentar. *** Muito antes da expulsão de Evo, os seus, os indígenas, já tinham sido expulsos da nação oficial. Não eram filhos da Bolívia: eram apenas sua mão-de-obra. Até pouco mais de meio século atrás, os índios não podiam votar nem caminhar pelas calçadas das cidades.Com toda razão, Evo disse em seu primeiro discurso presidencial, que os índios não foram convidados, em 1825, à fundação da Bolívia.Essa é, também, a história de toda América, incluindo os Estados Unidos. Nossas nações já nasceram mentidas. A independência dos países americanos foi, desde o início, usurpada por uma muito minoritária minoria. Todas as primeiras Constituições, sem exceção, deixaram de fora as mulheres, os índios, os negros e os pobres em geral. A eleição de Evo Morales é, pelo menos neste sentido, equivalente à eleição de Michelle Bachelet. Evo e Eva. Pela primeira vez, um indígena é presidente na Bolívia; pela primeira vez, uma mulher é presidente no Chile. E a mesma coisa poderia ser dita do Brasil, onde pela primeira vez é um negro o ministro da Cultura. Por acaso não tem raízes africanas a cultura que salvou o Brasil da tristeza?Nestas terras, doentes de racismo e de machismo, não vai faltar quem pense que tudo isto é um escândalo. Escandaloso é não ter acontecido antes. *** Cai a máscara, a cara aparece, e a tormenta aumenta. A única linguagem digna de fé é a nascida da necessidade de dizer. O mais grave defeito de Evo é que a gente acredita nele, porque transmite autenticidade até quando está falando em espanhol, que não é sua língua materna, e comete algum errinho. Acusam-no de ignorância os doutores que praticam a arte de serem ecos de vozes alheias. Os vendedores de promessas acusam-no de demagogia. Acusam-no de caudilhismo aqueles que na América impuseram um Deus único, um rei único e uma verdade única. E tremem de medo os assassinos de índios, temerosos de que suas vítimas sejam iguais a eles. *** A Bolívia parecia ser apenas o pseudônimo daqueles que mandavam na Bolívia, e que a exprimiam enquanto cantavam o hino. E a humilhação dos índios, já tornada costume, parecia um destino. Mas nos últimos tempos, meses, anos, este país vivia em perpétuo estado de insurreição popular. Esse processo de contínuos levantes, que deixou pilhas de mortos, culminou com a guerra do gás, mas vinha de muito antes. Vinha de antes e continuou depois, até a eleição de Evo que foi ganha contra vento e maré. Com o gás boliviano estava se repetindo uma antiga história de tesouros roubados ao longo de mais de quatro séculos, a partir de meados do século dezesseis:a prata de Potosí deixou uma montanha vazia,o salitre da costa do Pacífico deixou um mapa sem mar,o estanho de Oruro deixou uma multidão de viúvas.Isso, e somente isso, deixaram. *** As manifestações populares destes últimos anos foram crivadas de balas, mas evitaram que o gás evaporasse em mãos alheias, desprivatizaram a água em Cochabamba e La Paz, retornaram governos governados que estavam fora, e disseram não ao imposto sobre o salário e para outras sabias ordens do Fundo Monetário Internacional. Do ponto de vista dos meios civilizados de comunicação, essas explosões de dignidade popular foram atos de barbárie. Mil vezes foi visto, lido, escutado: a Bolívia é um país incompreensível, ingovernável, intratável, inviável. Os jornalistas que dizem isso, e repetem, enganam-se: deveriam confessar que Bolívia é, para eles, um país invisível. *** Nada tem de estranho. Essa cegueira não é só um péssimo costume de estrangeiros arrogantes. A Bolívia nasceu cega de si, porque o racismo coloca teias de aranha nos olhos, e é claro que não faltam aqueles bolivianos que preferem se ver com os olhos que os desprezam. Mas não é à toa que a bandeira indígena dos Andes rende homenagem à diversidade do mundo. Segundo a tradição, trata-se de uma bandeira nascida do encontro do arco-íris fêmea com o arco-íris macho. E este arco-íris da terra, que na língua nativa é chamado de tecido de sangue que flameja, tem mais cores que o arco-íris do céu.
Traducción: Naila Freitas / Verso Traductores
http://agenciacartamaior.uol.com.br/

Depoimentos de Lula em investigação do PT

São Paulo - Faz muito tempo que o presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva não fala publicamente sobre o advogado Roberto Teixeira, seu amigo e compadre, agora oficialmente convocado para ser um dos próximos depoentes da CPI dos Bingos. Houve época, entretanto, em 1997, que Lula contou longamente a história dessa amizade em dois depoimentos prestados em duas comissões de ética do PT. Esses depoimentos estão em mão da CPI dos Bingos desde a última terça-feira. Fazem parte do calhamaço de documentos entregues pelo economista Paulo de Tarso Venceslau, expulso do PT em 1998 depois de denunciar corrupção e tráfico de influência no chamado caso CPEM.
Lula foi ouvido duas vezes. Na primeira, em 30 de junho de 1997, depôs para os advogados Hélio Bicudo e José Eduardo Cardozo, e para o economista Paul Singer, quadros partidários que formaram a primeira comissão de ética sobre as denúncias de Venceslau. O relatório dessa primeira comissão acusou Teixeira por "grave falta ética" e recomendou que ele fosse punido. Foi aprovado pela Executiva Nacional, mas depois, sob forte pressão de Lula, foi desconsiderado.
O segundo depoimento foi prestado em 14 de novembro de 1997 para a comissão de ética de Paulo de Tarso Venceslau, composta por Pedro Pereira do Nascimento, o Pereirinha, André Luis de Souza Costa, Vander Luiz Lubbert, Maurício Abdala Guerrieri e Moisés Basílio.
Os dois depoimentos somam 38 páginas. Em ambos, Lula defendeu-se das acusações, atacou Venceslau, e contou a história de sua amizade com Roberto Teixeira. É esta parte que abaixo se reproduz, quase na íntegra, mantidos os erros da transcrição, privilegiando o primeiro depoimento, que às vezes é mais completo. Acréscimos feitos no segundo depoimento estão entre parênteses.
De lá para cá, não se sustentou a versão da compra de um terreno de Marisa como parte do dinheiro que comprou o apartamento em que Lula mora. Entendendo que se trata de um assunto privado, o hoje presidente nunca deu um cabal esclarecimento a respeito. Duas outras perguntas também ficaram sem reposta, até hoje: quem foram os empresários que doaram U$S 400 mil para pagar o resgate do sobrinho de Roberto Teixeira, parte dos recursos arrecadada pelo próprio Lula, e o que foi feito do dinheiro, já que não houve pagamento do resgate. Nem Lula nem o PT jamais esclareceram essas questões.
A seguir, trechos do depoimento de Lula em 1997:
Primeiro contato
"Tem gente que em função das relações de amizade comigo devem ter perdido mais do que ganham na vida. Eu conheci o Roberto Teixeira no começo de 1982 quando o Maurício [Soares] era candidato a prefeito [de São Bernardo do Campo]. Naquele tempo tinha sublegenda e tinha 2 vereadores em SBC que eram o Batistini e o Artur Barbosa Horta, que eram do MDB e que tinham vindo para o PT e eram duas pessoas muito sérias (...) Não eram de esquerda, mas eram de uma retidão de comportamento exemplar. O primeiro contato que eu tive com o Roberto Teixeira, no escritório [dele], com o Maurício, foi [para] conversar com esses dois vereadores para tentarmos trazer para o PT. (...) Aí se estabeleceu uma relação de amizade entre o Maurício e o Roberto Teixeira. Até então não era comigo. Até que logo depois das eleições, em 83, o Maurício convidou o Roberto Teixeira para ser secretário-geral do partido [em SBC] e o Roberto foi me consultar. Eu falei: "Olha, Roberto, algumas pessoas ajudam mais o PT não sendo do PT do que sendo do PT, eu preferiria que você não fosse. (É como Marcio Thomaz Bastos. Tem gente que fala: por que o Marcio não se filia ao PT?) Como advogado, você pode ajudar, você tem uma relação de amizade na cidade diferente da relação que o PT tem (...)". Mas o Maurício conseguiu (e o Roberto Teixeira virou secretário-geral do partido).
Teixeira na secretaria-geral
"Foi um secretário-geral muito atuante. Essa é a característica do Roberto Teixeira que incomoda muita gente: ele é muito atuante, ele trabalha 24 horas por dia e ao contrário do Dr. Maurício que você conhece bem, Hélio, o Maurício é mais paradão, (tem um jeito mais lerdo, mais devagar e o Roberto Teixeira empurrava demais o dr. Maurício para trabalhar), e o Roberto era um cara polêmico, pelo jeito dele ser ele era um cara muito polêmico."
Rompimento com Maurício Soares
"Aí, por problemas que eu não vou entrar em detalhes, conflitos familiares aí (problema de disputa, de incompatibilidade, de um ser mais competente do que o outro como advogado, de um se gabar diante do outro, inveja de mulher) houve um certo rompimento entre o Roberto e o Dr. Maurício. Rompimento não. Houve um afastamento.
Amigos se afastam
"Nesse meio tempo, o Roberto tinha perdido parte da relação de amizade dele pelo fato de ter entrado no PT. Logo que anunciou que estava no PT ele foi pra Caldas Novas com uns amigos que ele tinha lá em SBC. Ele era parte da classe média alta de SBC. Chegou lá, em Caldas Novas, a mulher dele esta esperando e disse : "Olha, Roberto, o pessoal está dizendo que esse negócio de você entrar no PT, que vão parar de sair com você". O Roberto pegou a mala, pegou a mulher, e veio embora. Largou o pessoal lá.
Amigo de Lula
"E aí, em função de estar mais ou menos brigado com o Maurício, em função de estar com uma certa relação de amizade um pouco conturbada, o Roberto passou a ter uma relação de amizade muito grande comigo, e eu comecei a freqüentar o sítio com o Roberto. (...) Isso foi em 83, 84, por aí. Eu comecei a freqüentar o sítio do Roberto Teixeira lá em Monte Alegre [SP]. Pelo menos uma vez por mês a gente ia pra lá. E eu lembro que naquele época o jornal O Estado de S. Paulo, já em 85, 86, foi em Monte Alegre pra pesquisar no cartório achando que o sítio do Roberto era meu e o Roberto era meu testa-de-ferro. Isso já em 85, numa cidadezinha pequena, o cara do cartório amigo do Roberto. Então o cara contou: "Olha, veio um cara do jornal O Estado". E começou a sair boato que eu tinha fazenda lá em Monte Alegre. - O sítio já virou fazenda? Era uma coisa absurda. Eu diria que pela minha presença no sítio, o Roberto perdeu muita amizade em Monte Alegre, porque o Roberto começou a impedir que as pessoas fossem no sítio dele pra não incomodar, quando eu ia descansar."
Teixeira paga operação
"Bem, em 85 eu fui pra Cuba e deixei o meu filho Marcos com o Roberto. E teve uma crise de apendicite do meu filho. Ele foi operado na Santa Casa, o Roberto pagou. Eu estou com um processo até hoje na Previdência, faz 12 anos, para restituir a operação que o meu filho fez, particular, na Santa Casa. Aí o Roberto passou a ter uma relação com minha família muito íntima. Ou seja: eu, Roberto, Elvira [esposa de Teixeira], as duas meninas dele e os meus meninos, a gente se via pelo menos 4, 5 dias por semana. A mulher do Roberto vendia estrelinha do PT na praça Lauro Gomes, junto com a Marisa, a molecada dormia na calçada da matriz dentro das barracas do PT, ela ia fazer Bazar da Pechincha com a Marisa, pra vender, arrecadar dinheiro pro partido. E passou a ter uma relação muito íntima de jogar buraco toda noite, tal.
De amigo a padrinho
Em 85 nasceu o meu filho, o Luiz Cláudio, e eu e a Marisa chegamos à conclusão que era importante chamar o Roberto e a Elvira para serem os padrinhos do nosso filho. No PT, o Roberto era um pouco assim visto como um burguesão, né, mas também no PT qualquer um (...)
Construtor da sede
"O Roberto Teixeira foi um cara que praticamente construiu aquela sede do PT [em SBC]. A primeira sede ele construiu vendendo metros. Ele comprou um terrenos de 600 metros, eu não sei quantos metros, ele vendeu o metro a 30 cruzeiros na época, então eu lembro que eu fui vender terreno com ele, o prefeito era o Galante. Vender terrenos pro Hospital Assunção, vendia terrenos. Trabalhador não podia comprar, juntava 6 ou 7 trabalhador e comprava um metro de terreno. Pra construir a sede as pessoas faziam doação de saco de cal, de saco de cimento, de ferro, e era o Roberto que fazia tudo isso. Ou seja: aquele sede saiu muito, muito, muito, por conta da teimosia do Roberto, ou seja, eu lembro até que nós fomos encher a lage daquela sede. Eu saí de SBC 6 horas para ir a São Sebastião fazer um comício. Voltei meia-noite, o pessoal estava trabalhando. Trabalhamos até 3, 5 da manhã para encher aquela lage. Era um tempo em que as pessoas trabalhavam no PT com muito gosto.
Primeiras denúncias
Bem, depois dessa sede, o Roberto começou a cair em desgraça no PT, não só porque já tinha uma certa inimizade com o Maurício, mas porque o Roberto tinha descoberto uma coisa (...) Aí entra uma coisa interna do PT que é o seguinte: o Roberto Teixeira começou a cair em desgraça no PT porque ele descobriu, com amizades que tinha na prefeitura, ele conseguiu informações da contabilidade da prefeitura, que os 7 vereadores do PT pagavam os 30% com aplicação da poupança (....) O Roberto descobriu isso, e os 7 vereadores viraram inimigos do Roberto e começaram a queimar o Roberto Teixeira, pediram uma Comissão de Ética pro Roberto. Ao perceberam que na Comissão de Ética ia dar merda porque o Roberto ia contar toda a história. Resolveram não pedir mais a Comissão de Ética. Aí o Roberto pediu uma Comissão de Ética pra ele, [mas] até hoje nunca foi ouvido. A nossa relação de amizade continuou crescendo, o Roberto foi aos poucos de afastando do PT.
Mais problemas com Maurício
Houve um problema muito sério com o Roberto em 88, não, em 90, em 88, quando Maurício ganhou as eleições para a prefeitura de SBC], porque o Roberto ia mudar pra Miami com a família porque ele queria que as filhas estudassem inglês, e o Maurício convidou o Roberto para ser secretário jurídico da Prefeitura, e foi um trabalho muito longe de convencimento [até] o Roberto aceitar. Quando o Roberto aceitou, essa é outra coisas que eu não queria que tivesse no relatório, a mulher do Maurício vetou. - A mulher do Maurício Porque tinha um conflito entre as mulheres que eu não vou entrar nessa história. Então, vetou. Então o Celso Daniel [prefeito de Santo André] e o Cicote [vice de Celso] convidaram o Roberto pra ser secretário. Aí o Roberto não aceitou. Aí o Roberto foi se afastando das coisas do PT. Alguns companheiros iam pedir orientações jurídicas. Ele já não dava mais. Ele falava: "Vocês só vêm atrás quando vocês precisam de mim, eu sou burguês pra isso, eu sou não sei das quantas, então acabou". Ele ficou ressentido, a mulher dele se afastou do PT e nós ficamos com a nossa relação de amizade.
Casa emprestada
Bem, veio 1989, e aí eu vou falar pelo que eu ouvi, aí já não sei. Eu estava no Ceará quando o comando da minha campanha achou que a minha casa no bairro Assunção era uma casa que não oferecia segurança para um candidato que tinha possibilidade de ganhar as eleições. E eu sempre fui contra mudar daquela casa porque aquela casa cada tijolinho que tem lá eu tenho participação de ter colocado. Então, embora não tivesse segurança, era uma casinha que eu me sentia como parte de mim. Mas aí o pessoal insistiu, insistiu. [No segundo depoimento Lula diz que Vladimir Pomar ou Luiz Gushiken foram pedir para Roberto Teixeira arrumar uma casa com mais segurança em São Bernardo: "O Roberto Teixeira que tinha mudado da casa dele para um apartamento falou: ´Estou com minha casa à venda, mas eu cedo a casa para o Lula, não tem nenhum problema´") Eu sei que mudaram sem eu saber. Eu sei que eu cheguei de uma viagem (ao Ceará). Quando eu desci no aeroporto eu fiquei sabendo que eu não estava mais na casa que eu morava, que eu já estava em outra casa. E aí eu fiquei na casa. O que aconteceu com a casa, e é isso que eu acho mais absurdo ainda, bem, eu fiquei pra casa e óbvio que eu transferi a molecada toda de escola, perto da casa que eu morava. (Não foi uma relação de amizade que fez o Roberto Teixeira dar a casa para mim, foi uma relação partidária. Não foi o Lula que pediu a casa ao Roberto Teixeira, foi o comanda da minhja campanha, em 1989, que pediu a casa. E eu tenho certeza que sendo Lula candidato, ou Pereirinha candidato ou Paulo de Tarso candidato, o Roberto Teixeira Cederia a casa, como cedeu muitas outras coisas ao PT, toda vez que o PT pediu, sem pedir nada). Então, terminou as eleições de 89. (O normal seria eu voltar para a minha casa). Eu tinha consciência que eu era candidato em 94. Se eu estou naquela casa, o muro fui eu que fiz, a casa não tinha muro (...), eu falei pro Roberto: "Você não precisa da casa e eu não quero mudar, portanto, eu sou candidato em 89, se é pra procurar outra casa em 94 eu já vou ficar na casa mesmo". O Roberto Teixeira não precisava da casa porque ele não aluga essas casas pra aluguel de moradia. Ele só aluga comercialmente. Então ele tinha o motorista dele que trabalhou comigo antes, depois foi trabalhar com ele, que mora numa casa dele mais central do que a que eu moro, não pagava nada. Tinha duas empregadas domésticas que moravam em casa dele em SBC que não pagavam nada. Era uma forma que ele encontrava pra guardar a casa. Agora faz um ano e pouco ele mandou o motorista embora e convidou o Ponchio que trabalha comigo agora pra morar de graça na casa dele. O Ponchio não foi porque como ele estava querendo vender eu falei pro Ponchio: "Você não vai mudar para uma casa que daqui a três meses o Roberto vende e você vai ficar sem nada". Então o Roberto nunca, nós nunca discutimos aluguel, nunca discutimos contrato...É uma coisa que eu sempre achei a coisa mais normal do mundo que eu morasse na casa de um companheiro meu que era meu compadre e que tinha uma casa que estava me dando pra morar. Sabe, eu sinceramente não consigo entender, a não ser o preconceito, o absurdo de alguém achar que pelo fato, e aí as ilações do Paulo de Tarso ´que o Lula mora na casa do compadre´. Eu poderia ter feito o que todo o mundo faz neste país, eu poderia ter mentido, eu poderia ter feito um contrato fictício, falava "Olha, Roberto, você finge que recebe e eu finjo que pago". Poderia ter feito isso. Não fiz, porque eu achava uma coisa normal. Depois de 94, o Maluf explorou isso na campanha de 94, vocês estão lembrados que o programa do PPB. Eles foram com televisão, mostrava a casa, fazia pergunta pro povo, como que pode, sabe, "você acha normal um compadre dar a casa pra outro morar?"
A compra do apartamento
"Mesmo depois disso eu achava uma coisa tão normal que eu não tomei nenhuma atitude. Qual foi a atitude que eu tomei? Em 1995, O Roberto e o companheiro de uma imobiliária, de uma construtora, me procuraram dizendo o seguinte, foi a primeira vez que eu senti que o Roberto possivelmente estava querendo que eu mudasse de casa, o Roberto falou assim: "Eu sou advogado da incorporadora, da construtora e tem a casa de um tal de [Luiz Roberto] Satriani, de um apartamento que está sem pagar há vários meses. Então, antes de ir pro leilão quero te dizer que é um bom negócio, se você puder comprar, é um negócio importante, é um apartamento de 186 metros [quadrados], é um apartamento de cobertura, está em construção ainda, o rapaz está devendo acho que 98 mil reais, se você der". É por isso que eu fiquei magoado com o Satriani. Na verdade, ele ia perder. Eu ainda dei dez paus pra ele, ele inventou aquela história de que era cheque do sindicato, inventou a história que depois era do PT e eu dei as cinco parcelas pra ele dividida em 2 e vendi o Omega por 40 paus e vendi um terreno por 73 paus que era um terreno que a Marisa tinha de herança dela e dos irmãos dela lá em SBC. Aí comprei o apartamento. (Eu falei: "Roberto, eu não tenho dinheiro pra comprar. A única coisa que eu tenho é o seguinte: eu estou pedindo para o Paulo Okamoto vender o meu carro e estou querendo vender um terreno. Se ele se confirmar, eu posso até ter". Roberto falou: eu compro o teu carro. Aí Roberto Teixeira me comprou o carro, eu vendi o terreno por 72 paus e comprei o apartamento. Já era para ter mudado da casa inclusive antes disso. Acontece que a incorporadora que estava construindo o prédio, é um condomínio de 40 famílias, era [de] um cidadão mãos enrolado que o Paulo de Tarso, que o apartamento que foiu um puta de num negócio que eu fiz em 1995, gerou um pesadelo em 1997, porque não está pronto ainda e falta fazer muita coisa, a incorporadora não existe mais e eu estou me fodendo nessa para voltar para o apartamento. Eu tinha, inclusive, só pra você ter idéia, eu tinha feito negócio com o Roberto Teixeira. Eu disse: Roberto, vamos fazer o seguinte, eu não vou mudar para o apartamento, eu não vou me dar bem morando numa favela vertical; se eu chegar bêbado em casa, bater a porta e os vizinhos reclamarem...Então, como eu recebo muita gente, eu vou ficar na casa. Eu tinha feito negócio. Até que saiu tudo isso e eu dezfiz o negócio). A minha idéia era efetivamente mudar de casa e ir pro apartamento. Agora com tudo isso eu estou numa situação que é a seguinte: eu não posso voltar pra casa onde eu morava, eu não volto mesmo, não tem mais sentido eu voltar para aquela casinha. Agora eu tenho só uma opção: ou eu vendo a casa, vendo o apartamento e compro outra casa ou eu faço um levantamento de preço e mando fazer uma coisa de preço e tento trocar o apartamento pela casa que eu estou. Então a minha relação de amizade com o Roberto é essa, quer dizer, eu não sei quem são os clientes Roberto Teixeira, por isso que eu falei pra imprensa "eu não sou casado em comunhão de bens com o Roberto Teixeira", ele tem a vida de e eu tenho a minha, nem ele sabe das coisas que eu faço pelo PT e eu não sei das atividades profissionais dele, ou seja, cada um cuida [da] sua [vida], independente de ser compadre.
O seqüestro do sobrinho
Ele [Roberto Teixeira] mudou pra São Paulo um ano atrás por causa do seqüestro, ele teve um sobrinho, filho do Dirceu, que foi seqüestrado em SBC. Foi 11 dias de seqüestro. O Roberto é um cara que tem muito patrimônio mas é um duro. Pra você ter uma idéia, Hélio,, quem teve que ir atrás do dinheiro, também não quero que saia aqui, era 400 mil dólares, fui eu que fui atrás de uma parte dele, sabe, pedi pra empresários amigos. "Olha tem uma situação delicada de seqüestro de uma pessoa". O irmão do Roberto queria vender a casa, queria vender o carro.
Ninguém consegue vender as coisas assim, de uma hora pra outra. Eu lembro que teve empresários nossos amigos, que eu também não vou citar o nome aqui, que eu sou muito grato, porque a hora que a gente pediu o cara no mesmo dia arrumou uma parte do dinheiro, e graças a Deus não precisou utilizar o dinheiro porque prenderam o seqüestrador, prendeu, prendeu mas escapou, escapou prometendo, ele prometia matar o Roberto todo dia no telefone. - O Roberto não, o Dirceu. O Roberto, que foi o negociador. O irmão do Roberto, o Dirceu, não tinha estrutura psicológica, e o Roberto era o cara que atendia os telefonemas. (...) Então aí o Roberto resolveu mudar pra São Paulo. [Então] agora a gente passa meses sem se ver (...). Mas é essa relação de amizade. Por que eu digo que o Roberto só perdeu? Nesses 15 anos de amizade eu não consigo ver algum momento em que ele possa ter ganho alguma coisa na relação de amizade comigo. Eu acho que no fundo ele só perdeu, até do ponto de vista profissional. Eu acho que alguns clientes que ele poderia pegar não dão serviço pra ele por causa da relação dele com o PT. É essa a minha relação de amizade com o Roberto.
Luiz Maklouf Carvalho

http://www.estadao.com.br/ultimas/nacional/noticias/2006/jan/28/99.htm

1/28/2006

A vitória eleitoral do Hamas: um voto pela clareza

A vitória do Hamas nas eleições legislativas da Autoridade Palestina levou toda a gente a perguntar: "e agora?" A resposta, e se o resultado deveria ser encarado como algo bom ou mau, depende muito de quem faz a pergunta. Embora o êxito do Hamas tenha sido fortemente perseguido, a escala da vitória foi geralmente considerada como um "choque". Vários factores explicam a ascensão dramática do Hamas, incluindo a desilusão e o desgosto com a corrupção, o cinismo e a falta de estratégia da facção do Fatah que dominou o movimento palestino durante décadas e que se considerava, de forma arrogante, como o líder natural e indisputável. O resultado desta eleição não é inteiramente surpreendente, entretanto, e fora prenunciado pelos acontecimentos recentes. Tomemos por exemplo a cidade de Qalqilya, no norte do West Bank. Cercado por pelos colonatos israelenses e agora completamente rodeada por uma muralha de betão, os 50 mil residentes da cidade são prisioneiros num gueto gigante controlado pelos israelenses. Durante anos o concelho da cidade de Qalgilya foi controlado pelo Fatah, mas após a conclusão da muralha os eleitores, nas eleições municipais dos últimos anos, passaram a eleger só vereadores do Hamas. O efeito Qalqilya agora generalizou-se por todos os territórios ocupados, com o Hamas a ganhar confirmadamente todas os cargos electivos. Assim, o êxito do Hamas é uma manifestação da determinação do palestinos de resistirem aos esforços de Israel para forçá-los à rendição, assim como uma rejeição do Fatah. Isto reduz o conflito aos seus elementos fundamentais: há ocupação, e há resistência. Para os palestinos sob ocupação, ainda não está claro o que significará a vitória do Hamas. Agora é comum falar-se de um "governo" palestino a ser formado fora dos resultados eleitorais, como se a Palestina já fosse um estado soberano e independente. Mas se o primeiro dever de um governo é proteger as vidas, a liberdade e a propriedade do seu povo, então a Autoridade Palestina nunca mereceu ser chamada um governo. Desde o seu início ele não foi capaz de proteger os palestinos dos ataques diários e letais do exército israelense no coração das suas cidades e campos de refugiados, ou de impedir um único dunum (1000 m 2 ) de terra ser agarrado para colonatos, nem de salvar um único arbusto das mais de um milhão de árvores arrancadas por Israel nos últimos dez anos. Ao invés disso, na concepção de Israel, a Autoridade Palestina era suposta esmagar a resistência palestina a fim de tornar os territórios ocupados seguros para a continuada colonização israelense. O Hamas certamente não permitirá que isto continue, mas se será capaz de transformar a Autoridade num braço da luta contra Israel não é de modo algum certo. O Hamas, que observou uma trégua unilateral com Israel durante um ano, assinalou que quer continuá-la se houver "reciprocidade" de Israel. O movimento evidentemente acredita que pode fazer uma tal oferta a partir de uma posição de força e tacticamente vantajoso para si deixar incerteza sobre quando e como retomará a resistência armada em plena escala. Elementos dos serviços de segurança da Autoridade Palestina dirigida por personalidades do Fatah podem estar relutantes em colocar-se sob o controle de uma autoridade dirigida pelo Hamas, o que poderia conduzir ao colapso do que resta da estrutura da Autoridade, ou mesmo da sua fragmentação em milícias pessoais. Israel e os Estados Unidos, que se recusaram a aceitar o resultado da eleição, podem ver algum interesse em encorajar um tal conflito interno. Israel provavelmente vai usar a vitória do Hamas como um novo pretexto para endurecer a repressão e acelerar sua imposição unilateral de muralhas e colonatos no West Bank destinados a anexar o máximo de terra com o mínimo de palestinos. Tais desenvolvimentos aumentam os riscos de uma escalada dramática da violência israelense-palestina. Quanto à maioria dos palestinos, que vivem como refugiados e exilados na diáspora, eles têm sido progressivamente excluídos e marginalizados dos esforços para resolver o conflito. Enquanto os EUA e os seus aliados, com assistência da ONU, foram a extremos extraordinários a fim de permitir aos iraquianos "fora do país" participarem nas eleições do país, estas mesmas potências não mostraram qualquer interesse em dar uma voz aos refugiados palestinos. O Fatah, que muitos refugiados palestinos suspeitam que liquidaria os seus direitos numa paz tratada com Israel, obviamente não tem incentivo para exigir tal participação. Está para ser visto se o Hamas, nascido em Gaza onde 90 por cento da população é refugiada, será capaz de articular uma agenda que atenda às preocupações da diáspora. Para a "comunidade internacional" — principalmente o "Quarteto" constituído pelos Estados Unidos, União Europeia, Rússia e o secretário-geral da ONU Kofi Annan, o resultado da eleição é muito embaraçoso. Eles, e a camarilha de bem financiadas ONGs e think tanks que gera a maior parte dos logros intelectuais, construíram a sua abordagem com base na noção de que a "reforma" palestina ao invés de ser um fim para a ocupação israelense é um meio para a resolução do conflito. Enquanto nominalmente comprometem-se numa solução dois-estados, estas potências arrastaram a Autoridade Palestina liderada pelo Fatah a um jogo infindável em que os palestinos têm de saltar através de obstáculos para provar o seu merecimento aos direitos básicos, ao passo que a mesma pressão não tem sido aplicada a Israel para findar o confisco de terras e a expansão dos colonatos. Esta indústria do processo de paz escolheu abençoar a retirada táctica de Israel de 8000 colonos de Gaza no verão passado, enquanto ignorava o número muito maior de colonos que Israel continuava a plantar ao longo de todo o West Bank, tornando efectivamente inalcançável uma solução dois-estados. A finalidade principal deste jogo não é trazer uma paz duradoura e justa e sim simplesmente isentar os jogadores da acusação de que nada estão a fazer para resolver um conflito que permanece um foco permanente de preocupação regional e mundial. Um esforço verdadeiro de paz exige confrontar Israel e torná-lo responsável, algo que nenhum dos membros do Quarteto tem a vontade política de fazer. Não há dúvida de que o Fatah foi inteiramente cúmplice neste jogo, pelo que tornou-se um prisioneiro e um parceiro indispensável. Por que outra razão teriam os Estados Unidos tentado tão desesperadamente sustentar o Fatah nos últimos meses, com o dispêndio de milhões de dólares em projectos destinados a comprar votos, e por que outra razão teria a UE ameaçado cortar a ajuda se os palestinos votassem pelo Hamas? A maior parte dos palestinos podia ver claramente que após anos de negociações e milhares de milhões de dólares de ajuda externa estavam mais pobres e menos livres do que nunca pois mais da sua terra fora apresada. Não é de admirar que esta espécie de suborno e chantagem não tivessem poder sobre eles e que provavelmente tenha tido o efeito oposto, aumentando o apoio ao Hamas. A vitória do Hamas puxa o tapete sob o projecto de tentar desviar a culpa pelo conflito da colonização israelenses para as patologias internas palestinas. Contudo, a indústria do processo de paz não desistirá facilmente, e agora pressionará o Hamas a actuar "responsavelmente" e a "moderar" as suas posições — o que significa, com efeito, abandonar todas as formas de resistência e assumir o dócil e cúmplice papel desempenhado até agora pelo Fatah. O pedido instantâneo dos EUA para que o Hamas "reconheça Israel" é como reverter o calendário 25 anos atrás, quando o mesmo pedido foi o pretexto para ignorar e excluir a OLP das negociações de paz. Mas como observou o Hamas, toda a submissão da OLP a estes pedidos não conduziu a qualquer relaxamento das garras de Israel ou a qualquer diminuição do apoio dos EUA a Israel. É improvável que o Hamas faça o que pedem os EUA e, mesmo que o fizesse, isto provavelmente apenas daria ascenso a novos grupos de resistência respondendo à pioria das condições no terreno geradas pela ocupação.
26/Janeiro/2006
[*] Co-fundador de The Electronic Intifada. O original encontra-se em http://electronicintifada.net/v2/article4425.shtml
Este artigo encontra-se em http://resistir.info/ .

Vitória do Hamas

A imprensa árabe destacou ontem (27) em suas primeiras páginas a vitória do Hamas nas eleições palestinas, com as manchetes "um tsunami político" nos territórios palestinos e "um choque em Israel". Em sua primeira página, o diário estatal egípcio Al Ahram, de maior tiragem no país, destaca que a "vitória do Hamas causa um terremoto político na Palestina" e "um choque em Tel Aviv". O diário árabe internacional Al Hayat afirma em suas manchetes que o "Hamas foi surpreendido por seu triunfo e o Fatah por sua derrota".
O jornal explica que o Hamas conseguiu uma vitória arrasadora nas eleições, que supuseram um verdadeiro "tsunami político", que não se vê diminuído pelas advertências dos Estados Unidos de que nenhum partido com "braço armado" poderá participar da paz. O Al Hayat, um dos jornais mais respeitados no mundo árabe, destaca o fato de que o Fatah se negou a compartilhar um governo com o Hamas antes mesmo de o partido islâmico anunciar suas intenções.
Declaração institucional
Em outro artigo na mesma publicação, o comentarista Ghassan Sherbel assinala que o mundo despertou com uma notícia descrita como um terremoto e que foi recebida com uma mistura de choque e incerteza, já que ninguém no mundo esperava um golpe deste tamanho, nem sequer o próprio Hamas. O jornal egípcio Al Gumhuriya, destaca em suas manchetes: "Terremoto político sem precedentes nos territórios palestinos" e "Hamas rompe o monopólio do Fatah no poder e ganha a maioria nas eleições".
O diário egípcio Al Ajbar disse que o "Hamas arrasa nas eleições e forma o governo palestino". O diário indica que o triunfo do Hamas foi sentido em Israel como um choque, enquanto Estados Unidos e Europa o acolheram com cautela, e o Irã foi o que mais abertamente mostrou sua satisfação. O líder do Hamas, Ismail Haniyeh, conversou por telefone com o presidente da Autoridade Nacional Palestina (ANP), Mahmoud Abbas, para pedir-lhe a realização de uma reunião na qual se discuta o futuro político da ANP.
Em declarações à imprensa, Haniyeh disse que a reunião será realizada, provavelmente, dentro de dois dias, quando Abbas for à Faixa de Gaza. Ontem mesmo Abbas anunciou que pedirá ao Hamas que forme o governo. Em declaração institucional, Abbas disse que "até agora não pedimos a ninguém que forme governo", mas "negociamos com algumas das formações políticas que participaram das eleições e é evidente que pediremos ao partido mais votado que assuma a tarefa de formar o governo".
Manifestações do Fatah
Palestinos ligados ao Fatah fizeram uma série de protestos na Cidade de Gaza para exigir a renúncia de Abbas da direção do partido. Os manifestantes se reuniram em marcha nas proximidades do prédio do parlamento. A tensão do integrantes do Fatah nas ruas de Gaza coincidiu com grandes atos convocados pelo Hamas para comemorar a vitória. Centenas de simpatizantes do Hamas comemoraram na Esplanada das Mesquitas, em Jerusalém Oriental, anexada por Israel.
O primeiro-ministro interino de Israel, Ehud Olmert, conversou com o presidente egípcio, Hosni Mubarak e com o rei jordaniano Abdullah II, sobre as conseqüências da recente vitória do Hamas. Em diferentes conversas telefônicas, Olmert expressou aos líderes da Jordânia e do Egito as preocupações existentes em Israel. O presidente egípcio disse que analisará esta questão com a direção palestina na próxima semana. O rei jordaniano disse que os palestinos devem agir de forma "responsável" e decidir em que direção querem avançar.
O governo israelense decidiu ignorar o próximo Governo islâmico da ANP, e iniciou uma campanha diplomática para convencer o Ocidente a seguir seus passos. A ministra de Exteriores de Israel, Tzipi Livni, pediu à "comunidade internacional" que não reconheça um governo palestino liderado pelo Hamas. A chefe da diplomacia israelense também pediu aos líderes internacionais que não legitimem o novo governo palestino se for liderado pelo grupo islâmico, que conquistou 76 das 132 cadeiras do Parlamento.
Impostos alfandegários
Além disso, afirmou que, ao escolher o Hamas, o povo palestino perdeu uma oportunidade para a paz, que se iniciou após a evacuação unilateral israelense da Faixa de Gaza em agosto e setembro. Israel também colocou em dúvida a possibilidade de transferir recursos para os palestinos. "Encontraremos problemas práticos para descobrir como lidar com pessoas que defendem a destruição de Israel", disse, no Fórum Econômico Mundial realizado na Suíça, Joseph Bachar, diretor-geral do Ministério das Finanças do Estado judaico.
Bachar referia-se aos impostos alfandegários e impostos sobre valor agregado que Israel recolhe em nome dos palestinos e que ele descreveu como sendo a principal fonte de financiamento do Orçamento palestino. O ministro palestino da Economia, Mazen Sinokrot, que participava do mesmo painel no qual o israelense deu essas declarações, disse que a ANP poderia quebrar já na próxima semana se Israel não realizar a transferência mensal de dinheiro (algo entre 40 milhões e 50 milhões de dólares).
Para Sinokrot, a transferência de recursos em questão referia-se a um "faturamento mensal" que Israel estava obrigado a pagar. "Não se trata de dinheiro de doadores. Eles têm a obrigação de trazer o dinheiro, dinheiro para o povo palestino. Eles não podem pensar de forma diferente", afirmou. "Como vamos pagar o salário de 135 mil funcionários?", perguntou Sinokrot. "Se esses salários não forem pagos, isso alimentará a violência", advertiu. Mais tarde, Bachar afirmou que "vamos tomar uma decisão na próxima semana a respeito da transferência dessa verba".
Assuntos municipais
A Comissão Europa (CE, órgão executivo da UE) garantiu que respeitará os resultados das eleições palestinas e acrescentou que a grande incógnita agora é saber se contará com um interlocutor válido com o qual possa trabalhar na Palestina. "Claro que vamos respeitar os resultados, é um processo democrático que é preciso levar em consideração, mas a questão é se dentro da ANP encontraremos um parceiro com o qual trabalhar", declarou a porta-voz de Exteriores da CE, Emma Edwin.
A ministra de Assuntos Exteriores da Suíça, Micheline Calmy-Rey, pediu que a "comunidade internacional" respeite a vitória Hamas. "O processo com o qual o Hamas obteve a maioria absoluta se desenvolveu de maneira democrática", afirmou a chefe da diplomacia suíça. Calmy-Rey afirmou que se pode esperar que o Hamas dê mostras do pragmatismo que tem utilizado nos distritos que já estão sob seu controle e abra uma nova via para a paz. "A gestão do Hamas tem demonstrado ser boa tanto nos assuntos municipais como nos de caráter social, e o acesso do grupo ao poder talvez ajude certas pessoas a pensar que o processo de paz pode mudar alguma coisa em sua vida cotidiana", afirmou a ministra.
Calmy-Rey afirmou que a melhora da situação social nos territórios palestinos, atualmente castigados pela pobreza e o desemprego, também faz parte do processo de paz, e pode encorajar o diálogo com Israel. A ministra disse esperar que o Hamas respeite os compromissos alcançados pelas autoridades palestinas e israelenses nos acordos de Oslo de 1993.
Felicitações do Brasil
O governo do Brasil considerou o processo eleitoral palestino como um marco decisivo para a consolidação da democracia e desejou que o pleito conduza a um Estado palestino independente que conviva em paz com Israel. Em comunicado, divulgado ontem após a vitória do movimento islâmico Hamas nas eleições realizadas nos territórios palestinos na quarta-feira, o governo brasileiro qualificou de "bem-sucedido" o processo eleitoral e expressou sua satisfação com o fato de as legislativas terem se realizado "em clima de completa tranqüilidade".
Além de felicitar as autoridades e o povo palestino, a nota assinala que o Brasil acompanha "com grande interesse" a situação na região e apóia os esforços a favor da "construção de um futuro de justiça e prosperidade" para todos os povos do Oriente Médio. O Brasil espera que o processo democrático "conduza ao estabelecimento de um Estado palestino independente e soberano, e à coexistência pacífica com Israel". Uma delegação de observadores brasileiros, composta por diplomatas e parlamentares, acompanhou as eleições palestinas.
O primeiro-ministro da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, sugeriu que seu país seja intermediário entre palestinos e israelenses, já que, segundo ele, Ancara tem boas relações com as duas partes. Erdogan, que participa dos debates do Fórum Econômico Mundial, que se encerram em Davos amanhã (29), assinalou que seu país "poderia ter um certo papel de intermediário" entre as duas partes em conflito. O primeiro-ministro turco também sugeriu a possibilidade de que a Organização da Conferência Islâmica (OCI) tenha um papel de mediadora e disse ter abordado o assunto durante seu encontro com o presidente do Paquistão, Pervez Musharraf.
Com agências internacionais
www.vermelho.org.br

1/25/2006

BUSH TENTA JUSTIFICAR

O Presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, citou hoje as ameaças feitas pelo terrorista saudita Bin Laden na sua última gravação para defender o programa do Governo norte-americano de escutas sem autorização judicial.
Bush visitou hoje a Agência de Segurança Nacional (NSA), encarregue de levar a cabo esse programa, no quadro de uma intensa campanha da Casa Branca para defender a polémica iniciativa.
Em declarações depois de se reunir com funcionários da NSA, organismo tão secreto que durante muitos anos o Governo negou inclusive a sua existência, o Presidente fez a sua primeira alusão à gravação de bin Laden divulgada na passada quinta-feira.
"Quando ele diz que vai atacar de novo o povo norte-americano, ou tentará, ele diz isso a sério", advertiu Bush.
"Alguns nos Estados Unidos dizem 'não pode ser verdade, não ficou gente disposta a atacar'. Tudo o que lhes peço é que escutem as palavras de Usama bin Laden e o levem a sério", salientou.
Nessa gravação, o líder da rede terrorista Al-Qaida oferece uma trégua, ao mesmo tempo que ameaça com novos atentados "muito em breve" em território norte-americano.
"Os terroristas vão fazer tudo o que puderem para nos atacar e eu vou continuar a fazer o que estiver ao meu alcance legal para detê- los", sustentou o Presidente.
Bush reiterou o argumento principal da sua administração para defender as escutas sem autorização judicial: "Temos que conhecer as intenções do inimigo antes de ele chegar a atacar".
POR OUTRA PARTE...
O investigador da União Européia (UE) para a área dos direitos humanos afirmou ontem (24/1) ter encontrado indícios de que os Estados Unidos tenham "terceirizado" a tortura para outros países e que é provável que os governos europeus soubessem disso. O senador suíço Dick Marty, que comanda uma investigação do órgão de direitos humanos Conselho da Europa, disse não ter encontrado nenhuma prova irrefutável de que a Agência Central de Inteligência – CIA – havia instalado centros de detenção secretos na Europa.
As declarações dele, incorporadas a um relatório preliminar, mantêm a pressão sobre a CIA e os governos europeus em meio às acusações de que a agência de inteligência dos EUA usou aeroportos europeus para transportar prisioneiros levados a outros países, onde podem ter sido torturados.
"Há uma grande quantidade de indícios coerentes e convergentes apontando para a existência de um sistema de "realocação" e "terceirização da tortura", disse Marty em seu relatório inicial para o Conselho da Europa, um órgão integrado por 46 países e cuja sede fica em Estrasburgo, leste da França.
"Centenas de vôos fretados pela CIA para transportar suspeitos de terrorismo islâmico transitaram por numerosos países da Europa", disse Marty. "Não é verossímil que os Governos europeus, ou pelo menos seus serviços secretos, não tenham estado a par", indica Marty.
Segundo o senador suíço, ficou provado que "indivíduos foram seqüestrados, privados de sua liberdade e transportados para locais diferentes dentro da Europa antes de serem entregues para países nos quais podem ter sido vítimas de tratamento degradante ou de tortura".
Marty estimou que mais de 100 pessoas podem ter sido alvo desse tipo de prática. "É altamente improvável que os governos europeus, ou ao menos seus serviços de inteligência, desconhecessem o que estava acontecendo", acrescentou.
Campos de concentração
Entretanto, o senador afirmou não ter encontrado provas claras sobre a existência, na Europa, de centros de detenção, como o instalado pelos EUA na baía de Guantânamo (Cuba).
O governo norte-americano não negou nem confirmou a notícia sobre os centros de detenção secretos.
Segundo as acusações, haveria tais centros na Romênia, na Polônia, na Ucrânia, em Kosovo, na Macedônia e na Bulgária.
Denúncias
O Conselho da Europa abriu no final do ano passado uma investigação sobre as alegações de que a CIA transportou suspeitos de terrorismo e os reteve ilegalmente em centros secretos de detenção na Europa, em particular em países do Leste.
Em seu relatório, de 24 páginas, Marty realiza um estudo superficial de todas as informações que foram sendo conhecidas desde que, em novembro, apareceram no jornal "The Washington Post" e a organização Human Rigths Watch denunciou os supostos vôos.
O relatório se centra nos casos de Abu Omar, o cidadão egípcio seqüestrado em 17 de junho de 2003 em Milão, e o de Khaled Al-Masri, alemão de origem libanesa, "detido por erro na Macedônia e levado a Cabul para ser interrogado".
Em relação à Espanha, o legislador suíço lembra que um juiz espanhol examina se o aeroporto de "Mallorca foi utilizado pela CIA como base para transportar suspeitos islâmicos, tal como anunciou em 15 de novembro" o ministro do Interior, José Antonio Alonso. O mesmo avião que transferiu Abu Omar, continua o relatório, "aterrissou pelo menos três vezes na Espanha".
Segundo informa Marty, o "seqüestro" de Abu Omar "sabotou uma importante operação antiterrorista", o que é "inaceitável" e "ineficaz" para os objetivos da luta contra o terrorismo.
Após criticar "a rejeição a cooperar" das autoridades americanas da base aérea de Ramstein - de onde saiu o vôo que transferiu Abu Omar -, Marty pede que se estabeleça um "diálogo franco, aberto e institucionalmente transparente" entre ambos os lados do Atlântico, e que "os uns respondam às perguntas e os outros estejam realmente dispostos a esclarecê-las".
Na abertura de ontem da sessão de inverno da Assembléia Parlamentar do Conselho da Europa, seu presidente, René Van der Linden, afirmou que na luta contra o terrorismo "não podemos tolerar que se utilizem métodos similares aos dos terroristas".
"Combater o terrorismo é prioridade máxima. É uma luta comum, de interesse comum. Mas todos os nossos parceiros devem respeitar o Estado internacional de direito", afirmou Van der Linden, que pediu a todos os Governos do Conselho da Europa que atuem para "descobrir a verdade deste assunto" em seus respectivos países.
EUA aprovam novas regras sobre a pena de morte; prisioneiros de Guantânamo poderão ser executados
Discretamente, o Exército dos Estados Unidos aprovou ontem novas regras sobre a pena de morte, provocando especulações de que os militares podem executar um preso pela primeira vez desde 1961.
Estes novos procedimentos militares tornarão possível as execuções na base militar americana de Guantânamo, em Cuba, se os prisioneiros forem condenados por crimes hediondos, informou ontem o Exército norte-americano. Atualmente, dez presos de Guantânamo estão acusados de vários crimes, mas nenhum deles que acarrete a pena de morte.
"Esta publicação é uma grande revisão", disse o documento emitido em 17 de janeiro e assinado por Sandra Riley, assistente administrativa da Secretaria do Exército.
"Este regulamento estabelece as responsabilidades e atualiza política e procedimentos para cumprir a sentença de morte, tal qual imposta por cortes marciais gerais ou tribunais militares", diz o documento.
Corredor da morte
Atualmente há seis presos no corredor da morte militar em Fort Leavenworth, Kansas (EUA). Um deles, Dwight Loving, é supostamente o mais próximo de ser executado.
"Estamos preocupados de que este novo regulamento seja um sinal de que estejamos nos preparando para uma execução", disse David Elliot, da Coalizão Nacional pela Abolição da Pena de Morte.
Loving, soldado que servia em Fort Hood, Texas, foi condenado pela morte de dois motoristas de táxi em 1988. A Suprema Corte dos EUA manteve a sentença em 1996.
O Tribunal de Apelações para as Forças Armadas dos EUA rejeitou em dezembro um recurso interposto por seus advogados. Não está claro se ele ainda tem algum instrumento jurídico para evitar a execução, que precisa de aprovação do presidente George W. Bush.
A última execução militar foi a do soldado John Bennett, enforcado em Fort Leavenworth no dia 19 de abril de 1961, seis anos depois de ter estuprado e tentado matar uma menina austríaca de 11 anos.
Dois outros militares foram condenados à morte no ano passado. O sargento Hasan Akbar era acusado de matar dois colegas em 2003 no Kuweit, nos primeiros dias da invasão ao Iraque. O aviador Andrew Witt foi condenado por matar sua mulher e um colega a punhaladas.
A maior parte das mudanças no novo regulamento é de caráter técnico, esclarecendo o papel dos vários oficiais no procedimento. Entretanto, uma das mudanças abre a possibilidade de que as execuções ocorram em outros lugares que não o Fort Leavenworth.
Com agências
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1/24/2006

EUA é acusado de "terceirizar" a tortura

Estrasburgo - O chefe da investigação européia sobre supostas prisões secretas administradas pela CIA na Europa afirmou ter encontrado evidências de que os EUA "terceirizaram" a tortura, e que é altamente provável que governos europeus estavam cientes da situação.
O senador suíço Dick Marty também disse que ainda não tinha conseguido provas irrefutáveis da existência de centros de detenção clandestinos na Romênia e Polônia, como denunciado pelo grupo Human Rights Watch, mas que era necessário o aprofundamento da investigação. Os dois países negam envolvimento.
Centros clandestinos de detenção violariam tratados de direitos humanos europeus. Marty reclamou da falta de cooperação por parte dos governos da União Européia em sua investigação.
O relatório de Marty, baseado em parte em investigações nacionais e notícias de jornais, não apresentou nenhuma nova grande descoberta e repetiu denúncias anteriores de que os EUA estariam desrespeitando leis internacionais sobre os direitos humanos em sua guerra contra o terrorismo.
Segundo Marty, mais de 100 suspeitos podem ter sido transferidos para países onde eles foram submetidos a torturas ou maus tratos em anos recentes.
"Todo o continente está envolvido", denunciou Marty na assembléia parlamentar do Conselho da Europa, um órgão formado por centenas de parlamentares das diversas nações. "É altamente improvável que os governos europeus, ou pelo menos seus serviços de inteligência, não tivessem conhecimento".
No relatório, Marty analisou o caso de um clérigo egípcio supostamente seqüestrado por agentes da CIA em 2003 em Milão. Na semana passada, a Itália requisitou formalmente aos EUA para permitir que seus promotores questionem 22 supostos agentes da CIA acusados de terem seqüestrados o clérigo egípcio, Osama Moustafa Hassan Nasr. O clérigo teria sido levado primeiro para uma base militar americana na Itália, então para a Alemanha e dali para o Egito, onde ele diz ter sido torturado.
Citando um advogado americano, Marty também afirmou que seis bósnios foram capturados por agentes americanos na Bósnia e levados para a Baía de Guantánamo, apesar da decisão de um tribunal bósnio ordenando sua libertação.
O Conselho da Europa lançou sua investigação após surgirem denúncias, em novembro, de que agentes dos EUA interrogaram supostos militantes da Al-Qaeda em prisões clandestinas na Europa Oriental e transportou alguns suspeitos para outros países.
Marty deve apresentar outro relatório preliminar nos próximos meses.
O governo Bush tem uma estratégia deliberada de abusar de suspeitos de terrorismo durante interrogatórios, diz a organização de defesa dos direitos humanos Human Rights Watch (HRW), em seu relatório anual. A organização, baseia suas conclusões, principalmente, em declarações de altas figuras do governo, feitas ao longo do último ano. A HRW afirma que as garantias dadas pelo presidente George W. Bush, de que os EUA não torturam, são enganosas e soam vazias.
"Em 2005, tornou-se claro, de forma perturbadora, que o abuso de detentos tornou-se deliberado, parte central da estratégia da administração Bush para interrogar suspeitos de terrorismo", diz o relatório. O diretor executivo da HRW, Kenneth Roth, recomenda a realização de uma investigação bipartidária independente, chefiada por um promotor especial, das ações da administração.
"Um de nossos temores é que o governo provavelmente ache que nada chocará a consciência, se for feito em nome da guerra ao terrorismo", disse Roth a jornalistas. Segundo ele, o "desprezo dos EUA pelos direitos humanos em nome do combate ao terror" na verdade prejudicou a guerra, roubando dos EUA a vantagem moral e gerando um ressentimento que "tem sido um bônus para os recrutadores de terroristas".
http://www.estadao.com.br/internacional/noticias

Bush anuncia a sua deslocação à Índia e ao Paquistão em Março


Washington, 24 Jan (Lusa) - O Presidente norte-americano, George W. Bush, anunciou hoje que vai à Índia e ao Paquistão em Março, durante um encontro na Casa Branca com o primeiro-ministro paquistanês, Shaukat Aziz.
"Irei à Índia e ao Paquistão em Março e faço questão de vos agradecer o vosso convite e, antecipadamente, a vossa hospitalidade", declarou o presidente, durante uma breve declaração à imprensa ao lado do primeiro-ministro paquistanês no Sala Oval da Casa Branca.
Os dois homens sublinharam a relação amistosa e "estratégica" entre os dois países e não quiseram evocar perante os jornalistas as recentes tensões provocadas por um bombardeamento norte-americano no Paquistão.
Disseram ter abordado durante o encontro a ajuda norte- americana ao sismo que fez mais de 73.000 mortos em Outubro, mas também a colaboração entre os dois países no combate contra o terrorismo e a proliferação nuclear, assim como o contencioso com a Índia sobre Caxemira.
"Os paquistaneses são nossos amigos e consideramos que esta amizade é vital para a manutenção da paz", disse Bush.
"Nós colaboramos estreitamente para vencer os terroristas que querem prejudicar a América e o Paquistão", disse.
"A nossa coligação com os Estados Unidos no combate contra o terrorismo é muito importante", secundou Aziz.
Um ataque aéreo norte-americano que visava o "número dois" da Al-Qaida, Ayman al-Zawahiri, segundo fontes próximas dos serviços secretos norte-americanos, matou 18 pessoas no noroeste do Paquistão a 13 de Janeiro.
O ataque suscitou no Paquistão uma vaga de manifestações populares contra os Estados Unidos e contra a colaboração entre Islamabad e Washington.
O governo paquistanês protestou oficialmente junto dos Estados Unidos.
A administração Bush não confirmou que os norte-americanos tenham sido os autores deste ataque, um dos incidentes bilaterais mais graves desde Setembro de 2001.
Também não apresentou desculpas. Justificou implicitamente tais acções afirmando a sua determinação em neutralizar os membros da Al-Qaida.
TM.
Lusa/Fim
Agência LUSA
http://www.rtp.pt/index.php?article=219752&visual=16

Nuestra bomba, vuestra bomba

Estaban todos presentes: representantes de los 3 de la UE, poderosas figuras del Departamento de Estado de USA, para asegurarse de que el gobierno de India no tuviera dudas sobre el envío de Irán al Consejo de Seguridad de la ONU y sobre el apoyo a una resolución a ese efecto en la reunión del Consejo de Gobernadores de la IAEA el 2 de febrero en Viena. “Estamos decididos a seguir ese camino,” dijo el subsecretario de estado para asuntos políticos de USA, Nicholas Burns, hablando de su misión: primero, asegurar el apoyo de India sobre Irán, y luego de discutir los planes para la separación de las instalaciones nucleares, civiles y militares. Pero esto último evidentemente figuraba en segundo lugar respecto a Irán, porque un diplomático usamericano más comunicativo declaró a esta columnista: “no habrá Congreso de USA ni aprobación de este acuerdo nuclear a menos que India apoye a los UE-3 respecto a Irán.”
Lo primordial está tan claro ahora, que hasta los evasivos funcionarios del Ministerio de Exteriores locales no pueden negar que el acuerdo nuclear está intrínsicamente vinculado a Irán. Y a menos que Nueva Delhi pueda demostrar que es un aliado dispuesto en cuanto a toda acción usamericana respecto a Irán, es poco probable que la energía nuclear civil siga su curso. El primer ministro Manmohan Singh fue a USA en julio pasado con dos puntos en su agenda. Uno era el acuerdo nuclear, el otro un escaño en el Consejo de Seguridad de la ONU. Ahora emerge que hubo alguna discusión dentro de la administración Bush sobre los dos temas, y que decidieron conceder el primer punto y no el segundo, a pesar de un punto de vista alternativo de que la opinión nacional india se consolidaría más a favor de Washington si se presionaba para conseguir un sitio permanente en el Consejo de Seguridad. Posiblemente, los más astutos en el Departamento de Estado de USA comprendieron que el incentivo nuclear podría mantener tenso al gobierno indio en su intento de alcanzarlo, mientras que un asiento permanente aseguraría un nivel de independencia del país asiático que los administradores usamericanos no están dispuestos a conceder.
Existe un esfuerzo concertado de los UE-3 y de los usamericanos de aprovechar la personalidad no demasiado liberal del presidente iranio Ahmadinejad. Han lanzado con mucha efectividad una campaña para satanizar al líder y unir a la opinión internacional contra Irán. En realidad, lo han incorporado cuidadosamente como un componente clave en la guerra propagandística contra Irán que ahora suena como: “Ese tipo está loco. ¿Puedes confiar en un hombre que habla de la eliminación de naciones soberanas de la faz del mundo? Esos individuos son maniáticos y trabajan definitivamente hacia la bomba. Todo gobierno sensato nos apoyará para detenerlo, ya que armas de destrucción masiva en manos de estos individuos sólo puede significar caos y destrucción.”
¿Suena familiar? Sí, y créanme, es el núcleo del argumento que los periodistas en este país han recibido del Dr. Michael Schaefer, el personaje central alemán para los UE-3, que estuvo en Delhi para consultas, y del subsecretario de USA, Nicholas Burns, que se muestra categórico en que ahora no puede haber un aplazamiento para Irán. Si se reemplaza el nombre de Ahmadinejad por el de Sadam Husein, e Irán por la palabra Iraq, el resto es una historia familiar. Los usamericanos hablan de la opción militar, los 3 de la UE hablan de política y diplomacia, y a pesar de todo los europeos saben que si Washington se decide por la acción militar, hay poco que puedan hacer por impedirlo. El único factor que detiene a los usamericanos actualmente no es el sentido común ni el respeto por la soberanía de otra nación, sino que ya no dan más en Iraq y Afganistán y que no podrán justificar otra guerra ante su gente.
¿Qué crimen tan terrible ha cometido Irán? Firmó el Tratado de No-Proliferación Nuclear, ha firmado el intruso Protocolo Adicional que permite acceso ilimitado a los inspectores de la IAEA a sus instalaciones nucleares literalmente casi sin aviso previo. Ha abierto la instalación de Natanz después de declarar que sólo sirve a la investigación pacífica, y ha invitado a los inspectores de la IAEA para que supervisen toda su actividad. Ha expresado su disposición a discutir el tema, y ha abierto de buena fe consultas con Rusia. Pero los usamericanos y los 3 de la UE siguen convencidos de que Irán quiere desarrollar armas nucleares, una percepción deliberada que en realidad expresa su propia falta de fe en la IAEA y en su capacidad de asegurar que el programa nuclear pacífico no sea convertido, en algún momento, en el desarrollo de armas nucleares.
Por otra parte, este desprecio total por la soberanía de un país se hace cada vez más intolerable. Muchos que apoyan actualmente la posición iraní, no lo hacen porque quieran que Irán produzca la bomba. Lo hacen porque la idea misma de que otros países cuestionen la palabra de un presidente soberano y desarrollen una sucia campaña contra una nación civilizada que valora su independencia, no puede ser aceptable para los que aprecian su propia soberanía. Los funcionarios de Bush afirman que actúan en función de sus propios intereses nacionales. No lo dudamos. El problema comienza realmente cuando esta afirmación se amplia a la determinación de los intereses nacionales de otros países. Después de todo, como Bush y sus colegas deben haber comenzado a comprender, mientras tratan de disfrazar el acuerdo nuclear con India para que cuente con la aprobación del Congreso de USA, que esos esfuerzos contribuyen crecientemente a crear aprensión dentro del considerable establishment político de India de que sus propios intereses nacionales están en peligro.
La política de los 3 de la UE y de USA incluye ahora dos aspectos: Preguntas incómodas sobre la manifiesta transparencia nuclear de Irán en la actualidad son enfrentadas diciendo: pero miren a Ahmadinejad, no se puede confiar en ese hombre. Y segundo: para lograr el apoyo ruso y chino ajustan la resolución propuesta de la IAEA de enviar el caso de Irán sin incluir sanciones al Consejo de Seguridad de la ONU. Las sanciones pueden venir más tarde. ¿Qué deberá ocurrir para que suceda? El Dr. Michael Schaefer se negó a responder, diciendo que habrá que verlo. Irán ha amenazado con retirarse de todas las negociaciones nucleares si es enviado al Consejo de Seguridad de la ONU. ¿Será el disparador para las sanciones? No hay respuesta.
¿Y qué pasa con el presidente Ahmadinejad? El mundo está cometiendo un error importante al juzgar a este presidente que, a propósito, ha ganado más apoyo popular desde el comienzo de la actual crisis. Sus declaraciones no son demenciales, están dirigidas hacia un electorado dentro de Irán que es el pilar de la opinión nacional. La elite angloparlante en Teherán no refleja a la opinión pública y el presidente iraní, un hombre de la calle, lo sabe. Los iraníes se mostraron inicialmente escépticos ante su elección, ahora los impresiona cómo su presidente, con astutos consejeros, ejecuta un cuidadoso juego de política al borde de la catástrofe. No tiene un pelo de tonto, es un hombre inteligente que ha dejado en claro que, aunque su gobierno está dispuesto a discutir, no acepta amenazas.
Los usamericanos suenan cada vez más amenazantes y estridentes. Mucha bravuconería, mucha confusión, mientras las tasas de popularidad de Bush no muestran signos de mejorar, una triste comprensión de que los países pequeños siguen teniendo el coraje de enfrentar su poderío militar, y que las tácticas de “choque y sobrecogimiento” empleadas en Iraq han, en realidad, fortalecido la resistencia a la hegemonía de USA. Es una lástima que el gobierno indio no sea capaz de pensar por sí solo, y que esté tan cautivado por el capitalismo patrocinado por USA, que sus declaraciones de política exterior reflejan la misma bravuconería y arrogancia. Puede ser que Ali Larijani de Irán haya actuado sin respetar el protocolo diplomático, pero esencialmente, su observación sobre los dobles raseros que se aplican a India constituye un ejemplo de cosas que los congresistas usamericanos dicen a diario. Los propios indios cuestionan una política nuclear que afirma el derecho para algunos, pero no para todos, y que Occidente y sus aliados se conviertan en policías militares que otorgan certificados de “buenos”, “malos”, “delincuentes”, a naciones soberanas en todo el mundo.
La respuesta es el desarme nuclear, la destrucción de esa arma anti-humana, horrible y maligna que el hombre inventó para destruirse. Pero hasta que USA y los Cinco Permanentes lo comprendan, países como India, Irán, Pakistán y otros, continuarán buscando el poder nuclear, algunos dentro del Tratado de No-Proliferación, otros fuera. Irán tiene un vecino hostil, Israel, más beligerante e irrestricto en sus declaraciones que el presidente Ahmadinejad. El primer ministro Manmohan Singh dijo que India no quiere tener estados nucleares en su cercanía. ¿Pero se le ocurrió – a él y a sus partidarios favorables a la bomba – que tal vez, sólo tal vez, los demás países en la región tampoco quieren tener a una India nuclear entre ellos?
http://www.asianage.com/main.asp?layout=2&cat1=6&cat2=44&newsid=204000&RF=DefaultMain
http://www.rebelion.org/

Evo Morales muda comando militar


Com a promessa de lutar contra a corrupção nas forças armadas, o recém-empossado presidente boliviano Evo Morales substituiu alguns dos principais comandantes militares do país em uma cerimônia marcada por gritos de protestos contra a decisão. Para os manifestantes, os comandantes nomeados por Morales seriam inaptos para assumir as funções para às quais foram indicados. A troca do comando militar é interpretada como uma manobra do novo presidente para enfraquecer militares suspeitos de cumplicidade em um recente escândalo envolvendo a destruição de mísseis bolivianos. Dias antes da posse de Morales, o comandante do Exército boliviano, General Eduardo Rodriguez, e o ministro da Defesa do país, Gonzalo Mendes, foram afastados de seus cargos após Rodriguez enviar 28 mísseis do exército boliviano para serem destruídos nos EUA. Os críticos das substituições, no entanto, alegam que o general escolhido pelo presidente para comandar as forças armadas não possui a patente necessária para exercer o cargo. Alguns oficiais ficaram enfurecidos com a notícia de que perderiam seus postos. "O que eles estão fazendo comigo?", gritou um dos generais depostos. Sua filha, que também acompanhava a cerimônia, reforçou o coro: "Injustiça! Injustiça!" Durante a campanha, Morales argumentou que a decisão dos militares de enviar os mísseis chineses para os EUA era ilegal, pois não teria sido autorizada pelo congresso. Ele prometeu investigar o caso. "É lamentável que alguns generais tenham que ser submetidos a uma rigorosa investigação", disse. "É importante reforçar nossas forças armadas porque um país sem exército não é livre nem soberano", completou. Estados Unidos O escândalo dos mísseis vem a público em um momento delicado para os EUA. O país tenta melhorar suas difíceis relações com o esquerdista Morales, um freqüente crítico das políticas econômicas e anti-drogas americanas. Na semana passada o Departamento de Estado americano informou estar "comprometido" com o pedido boliviano para "armazenar equipamentos militares vencidos". Atualmente os EUA travam uma campanha para livrar a América Latina de armas portáteis que poderiam ser usadas por terroristas. Ao demitir os comandantes nesta terça-feira, Morales pediu a cooperação nas investigações, e disse que ele apenas procura pelos responsáveis diretos pelo envio dos mísseis. O presidente também nomeou os novos chefes do exército, marinha, aeronáutica e polícia.
Agência Estado
http://www.noolhar.com/internacional