O refúgio de Osama Bin Laden
Quando o presidente Bush desembarcar em Islamabad esta semana será o momento em que estará mais perto de Osama bin Laden. Seu inimigo está provavelmente a algumas horas de carro no cinturão pushtu do Paquistão, que deve ser agora a central da al-Qaeda.
Nos últimos 12 meses, autoridades da CIA e do Pentágono mudaram as declarações que fizeram durante três anos após os atentados de 11 de Setembro de 2001 — que Bin Laden estava escondido “nas áreas tribais na fronteira entre Paquistão e Afeganistão”. Agora dizem que ele “não tem sua base no Afeganistão”: Bin Laden está no Paquistão.
O que resta é a pergunta: O que estão fazendo os EUA e seu aliado, o Paquistão?
Não muito, de acordo com altas autoridades afegãs, paquistanesas e ocidentais com quem conversei. Na verdade, as ações desastrosas de EUA e Paquistão apenas precipitaram a radicalização do noroeste do Paquistão e o tornaram mais acolhedor para Bin Laden e seus aliados talibãs.
“Temos lidado com uma figura que foi capaz de se esconder, mas está em fuga”, disse este mês a secretária de Estado Condoleezza Rice. Mas aqui no Paquistão a visão é outra. Bin Laden está bem protegido por amigos.
Antes do 11 de Setembro, a zona de influência de Bin Laden estava entre os pushtus no Afeganistão, que foi o centro do poder talibã. Os pushtus são o maior grupo étnico afegão e governaram o país por 300 anos. Nas fronteiras de hoje, milhões deles vivem no Paquistão, muitos na área tribal.
Foi no leste do Afeganistão que Bin Laden fez sua última aparição pública, em 10 de novembro de 2001. Ele discursou para mil guerreiros pushtus, exortando-os a resistir aos EUA. Então desapareceu nas montanhas de Tora Bora.
Poucos pushtus afegãos ousariam traí-lo naquele tempo. Mas os tempos mudaram. A maioria dos pushtus afegãos agora querem os benefícios da paz: desenvolvimento, estradas e escolas. Os pushtus do Paquistão, ao contrário, se radicalizaram após o 11 de Setembro. E a rebelião dos talibãs e da al-Qaeda agora conta com os pushtus paquistaneses para recrutamento e logística.
A região de Bin Laden se estende por 3.200 quilômetros no cinturão pushtu, indo até as fronteiras com China e Irã. A região tem de áreas de deserto até montanhas cobertas de neve. Pouco povoada, dá a Bin Laden o santuário ideal.
A al-Qaeda ajudou na transformação do cinturão pushtu numa base extremista, mas ações de EUA e Paquistão ajudaram mais. A recusa do secretário de Defesa Donald Rumsfeld a usar soldados suficientes na guerra permitiu que os extremistas escapassem e se reagrupassem lá. Por 27 meses, o presidente Pervez Musharraf permitiu que extremistas se instalassem lá.
Em março de 2002, três meses depois da derrota do talibã, os EUA começaram a retirar tropas, satélites e aviões espiões para a guerra no Iraque. Quando as tropas paquistanesas entraram lá, em março de 2004, os extremistas estavam entrincheirados e mataram 250 soldados.
Conseguir resultados não será fácil. Os pushtus paquistaneses não têm motivos para trair Bin Laden. O dinheiro está entrando com o comércio de drogas no Afeganistão e as malas cheias que chegam de aliados árabes. O governo paquistanês não oferece um papel político para os pushtus. Ações americanas como o ataque com mísseis que matou mulheres e crianças fazem o resto.
A recente decisão de Washington de começar a retirar tropas do Afeganistão este ano reforçou a crença da al-Qaeda de que está vencendo. Depois de quase cinco anos, cada dia que Bin Laden continua vivo inspira mais os extremistas que o protegem.
AHMED RASHID é jornalista paquistanês e escreveu esta artigo para o “Washington Post”
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